Presença dos judeus em Portugal até à inquisição
(artigo retirado de
http://www.morasha.com.br/conteudo/turismo/portugal/portugal.htm)
A Inquisição em Portugal sofreu
influência directa da sua actuação na Espanha, onde, por insistência dos
reis católicos espanhóis, Fernando e Isabel, o papa Sixtus IV apoiou a
criação de uma Inquisição Espanhola Independente, em 1483, presidida por um
Conselho e um inquisidor. Entre os mais famosos, está Tomás de Torquemada,
um símbolo de crueldade, intolerância e fanatismo religioso, que ajudou a
escrever um capítulo especial do Santo Ofício na Península Ibérica e em suas
colónias, cujo alvo principal foram os judeus e, em seguida, os
cristãos-novos, ou os judeus convertidos à força ao cristianismo.
Passados os séculos, a instituição e os seus excessos têm sido motivo de
embaraço para muitos cristãos. Durante o Iluminismo, a Inquisição chegou a
ser citada como um dos maiores exemplos de barbárie durante a Idade Média.
Mas em sua época, despertava a simpatia de muito sectores, que a
consideravam um instrumento político, económico e necessário para a defesa
das crenças religiosas.
Pesquisas históricas indicam que a presença judaica em Portugal remonta ao
século VI antes da era cristã, sendo anterior à formação do reino de
Portugal. No século XII, sob o comando de Afonso Henriques, Portugal
torna-se uma nação e surgem as primeiras comunidades judaicas em Lisboa,
Oporto (actual Porto), Santarém e Beja.
Durante o reinado de Afonso Henriques, os judeus vivem momentos de
tranquilidade e prosperidade, possuindo também um sistema comunitário
autónomo no qual o grão-rabino era indicado pelo rei. Neste período, o
grão-rabino Yahia Ben Yahia foi escolhido Ministro das Finanças, sendo
também responsável pela colecta de impostos no reino. A tradição implantada
por Afonso Henriques, de escolher judeus para a área financeira e de manter
um bom relacionamento com as comunidades judaicas, é seguida pelos seus
sucessores.
No entanto, para os judeus, a era de prosperidade e de participação na vida
política e económica do reino termina no início do século XV, com o
aparecimento de um anti-judaísmo local e com a influência cada vez maior da
Inquisição espanhola. Por trás da deterioração da situação das comunidades
judaicas estão as pressões da Igreja, o surgimento da burguesia e, por
último, a aliança da Espanha com Portugal, fortalecida através do casamento
de Manuel I com Isabel, filha dos reis católicos Fernando e Isabel. Como na
Espanha, a prosperidade dos judeus despertou a inveja dos seus vizinhos,
impondo-lhes, entre outras punições, maiores impostos.
Para a Igreja, a conversão dos judeus e o fim do judaísmo são as únicas
maneiras de afirmar definitivamente a identidade messiânica de Jesus. Para a
burguesia, o fim dos judeus significa a possibilidade de conquistar uma
posição privilegiada na vida económica da nação. Para os reis católicos,
representa a extensão da Inquisição espanhola em solo português, perseguindo
aqueles que conseguiram fugir do decreto de 1492, que determinou a expulsão
de todos os judeus da Espanha.
Durante o reinado do rei João, pela primeira vez os judeus são obrigados a
usar em suas roupas símbolos que indicam sua crença religiosa. Em 1435, sob
o comando de Afonso V, o Rabino Isaac Abravanel, judeu, médico, talmudista e
filósofo desempenha as funções de conselheiro e tesoureiro do rei. Ao mesmo
tempo, é criada uma lei que proíbe os judeus de terem empregados cristãos.
A 30 de Maio de 1492 é assinado o decreto que expulsa os judeus da Espanha,
levando cerca de 80 mil a buscarem abrigo em Portugal, apesar das medidas
restritivas que vêm sendo adoptadas no país. Mesmo com a perseguição,
Portugal ainda se apresenta como uma alternativa de salvação para os judeus.
Para acolhê-los, o rei João II exige o pagamento de uma taxa que lhes
permite ficar no país apenas oito meses, prometendo-lhes que, ao final desse
período, poderão partir em navios cedidos pelo governo. Além de não cumprir
a promessa, são vendidos como escravos para a nobreza portuguesa. Neste
mesmo período, cerca de 700 crianças judias foram separadas de suas famílias
e enviadas para colonizar a ilha africana de St. Thomas, onde a maioria
morreu.
O próximo passo dessa tendência de perseguição é dado a 5 de Dezembro de
1496, quando Manuel I, sucessor de João II, e às vésperas do casamento com
Isabel da Espanha, assina o decreto que prevê, em dez meses, a expulsão dos
judeus de Portugal. A única alternativa para evitá-la seria a conversão ao
cristianismo.
A maioria dos judeus, que fugira da Espanha justamente para evitar a
conversão, decide então, sair de Portugal. O rei, no entanto, diante da
possibilidade de evasão do capital financeiro do país, juntamente com a
população judaica, publica um novo decreto, que proíbe a partida de Portugal
e força os judeus a se converterem.
Segundo o relato de Cecil Roth, em seu livro "Uma História dos Marranos",
crianças foram arrancadas do colo de seus pais e entregues a famílias
cristãs, para viverem em locais muito distantes de seus familiares. Para
alguns judeus era preferível a morte do que o baptismo dos filhos.
Diante desses medidas, não restaram muitas opções aos judeus portugueses.
Enquanto uma parcela das comunidades judaicas locais aceita seu destino e
assume totalmente sua nova religião, outra segue os novos preceitos apenas
aparentemente, mantendo secretamente seus rituais e tradições. São
justamente os descendentes dessas gerações que hoje, 500 anos após o decreto
de expulsão e a conversão forçada, começam gradativamente a buscar e a
assumir sua herança judaica.