Shofar
Um pouco sobre o Shofar…
O que é?
Você já pensou alguma vez que o shofar é um dos instrumentos de sopro
mais antigos usados pelo homem? Somente a flauta do pastor – chamada Ugav,
na Bíblia – o iguala em idade (de acordo com algumas opiniões), mas não tem
função no serviço Divino nos dias de hoje. O shofar, porém, é o mesmo que
aquele usado há milhares de anos. Durante a história da humanidade foram
inventados instrumentos novos, abandonados os velhos e somente nos museus
poderemos encontrar uma flauta antiga. Não é digno de admiração que ainda
nos apeguemos ao antigo shofar?
Naturalmente, se você considerar o shofar como um "instrumento musical"
não tem grande valor. O shofar não produz sons delicados como o clarim
moderno, a trombeta ou outro instrumento de sopro. Mas, para nós, o shofar
não é um instrumento "musical"; não é usado por prazer ou divertimento.
Longe disto; tem um sentido muito mais profundo. É um chamado para o
arrependimento, avisando a chegada dos Dez Dias de Arrependimento, que
começam com Rosh Hashaná e culminam com Yom Kipur.
Ele nos lembra o carneiro sacrificado por Avraham (Abrão) no lugar de
Yitschak (Isaac) através da história da Akedá (conhecido como o
“sacrifício de
Yitschak”), lida no segundo dia de
Rosh Hashaná. Orgulhamo-nos de ser descendentes de Avraham e Yitschak e por
ter herdado algo de sua lealdade e devoção completas a D'us.
Ocasiões em que era tocado
Nos tempos antigos, o shofar era usado em ocasiões solenes. A palavra shofar
é mencionada pela primeira vez em conexão à Revelação Divina no Monte Sinai,
quando "a voz do shofar era por demais forte e todo o povo do acampamento
tremeu". Assim, o shofar em Rosh Hashaná deve nos lembrar a aceitação da
Torá e nossas obrigações decorrentes de suas Leis.
O shofar também era tocado quando guerreávamos contra inimigos perigosos.
Portanto, o shofar de Rosh Hashaná deve servir como um grito de guerra
contra o inimigo interior e nossos maus impulsos .
O shofar foi tocado no ano de Yovel (Jubileu), anunciando a libertação da
escravidão e da penúria. O seu som, no dia de Rosh Hashaná, deve ser também
sinal de quebra das correntes de pecados, de maneira que possamos começar
uma nova vida com o coração puro, sintonizado em servir a D'us e aos
semelhantes.
O shofar deve ser curvo, para
mostrar que devemos curvar nossos corações ao nosso Pai Celestial. Não deve
ser decorado com ouro, ou mesmo com pinturas sobre ele. A única coisa
permitida é alguns entalhes no próprio chifre, sem adicionar nada a isto.
A pessoa deve escutar o próprio som do shofar, e não um eco do som. Se
alguém ouve apenas o eco dos toques, não cumpriu a mitsvá do shofar. Esta
lei foi importante para os judeus na época da Inquisição Espanhola, quando
os marranos (judeus em segredo) costumavam sair para as florestas, colinas e
cavernas para tocar o shofar, pois se fossem apanhados neste ato, seriam
queimados vivos em estacas.
Similarmente, em certos países árabes, conta a história que os judeus não
podiam tocar o shofar, pois isso costumava assustar os árabes, que sabiam
que de acordo com a tradição judaica, o Messias chegaria certo dia com o
toque do shofar.
O shofar é tocado em Rosh Hashaná após a leitura da Torá, antes e durante a
prece de Mussaf. Embora uma mitsvá não deva ser adiada, havia uma boa razão
para adiar o toque do shofar para depois da leitura da Torá.
Isso aconteceu, numa certa comunidade judaica cercada por inimigos, em que o
shofar foi tocado de manhã bem cedo. Os inimigos pensaram que os judeus
estivessem convocando para uma rebelião contra eles, então os cercaram e os
mataram. Ficou então decidido tocar o shofar após a leitura da Torá, pois,
quando os inimigos viam que os judeus já haviam feito parte de suas preces
pacificamente, percebiam que era uma reunião pacífica para a oração, e não
uma rebelião contra eles.
Rashi explica que houve um tempo em que os judeus foram proibidos de
tocar o shofar. Guardas eram postados para vigiá-los até que o serviço da
prece de Shacharit estivesse concluído. Os judeus por isso tocavam o shofar
mais tarde, durante o serviço Mussaf, e assim permaneceu esta regra, de
tocar o shofar após o serviço de Shacharit..
Hoje em dia, com a criação
do Estado de Israel, todos os presidentes eleitos ao serem nomeados, tem
inicio do mandato com uma cerimónia solene no Knesset (parlamento) onde o
shofar é tocado por dois guardas oficiais – um representando a comunidade
“sefaradi” tocando um shofar messulsal, ou seja cumprido e ondulado e
o outro representando a comunidade “ashkenazi” com uma shofar curto e
curvo. Isto vem a lembrar que os Reis de Israel no passado eram coroados ao
toque do shofar.
As bênçãos que antecedem o toque
O toque do shofar em Rosh Hashaná é um mandamento da Torá. É um preceito
como todos os outros de nossa fé e, portanto, deve ser feita uma bênção
especial antes de cumpri-lo.
O propósito da bênção é agradecer a D'us por nos ter santificado com Seus
mandamentos e nos ter dado a oportunidade de cumprir a Sua vontade. Esta
bênção, em geral, é um preparo para que nossos actos não sejam realizados
apenas pela força do hábito e, sim, conscientemente, sabendo seu significado
e perante Quem devemos agir. A bênção antes do toque do shofar tem a mesma
finalidade.
Esta é a bênção: "Bendito és Tu, ó Senhor, nosso D'us, Rei do Universo, que
nos santificou com Seus mandamentos e nos ordenou ouvir a voz do shofar."
Começamos a bênção na segunda pessoa – como se estivéssemos directamente
perante D'us – mas a terminamos na terceira pessoa – pois D'us é
Omnipresente e Invisível, Santo e além da compreensão. Todas as bênçãos
apresentam esta mesma estrutura.
Em hebraico a palavra Lishmoa ("ouvir" ou "escutar") da mesma raiz de ‘Shemá’,
que possui vários significados, entre eles, escutar ou ouvir com os nossos
próprios ouvidos; além de entender e obedecer.
Deste modo, quando o Baal Tokêa (aquele que toca o shofar) faz a bênção por
todos nós, espera-se que não só o som do shofar seja ouvido, como também
compreendida e obedecida sua mensagem.
Os toques
O Shofar emite três sons característicos:
Tekiá – um som contínuo, como um longo suspiro; Shevarim – três sons
interrompidos, como soluços; Teruá – nove (ou mais) sons curtíssimos como
suspiros entrecortados em prantos.
Estes sons do shofar evocam e expressam sentimentos de profundo pesar pelas
más acções que cometemos no passado. É também uma conclamação às armas, como
um tambor de guerra. O shofar nos convoca a lutar contra tudo que impeça a
práctica
do judaísmo em sua plenitude: paixões, preguiça e negligência; contra a
influência de maus amigos, etc., afirmando que todos os preceitos são dignos
para que lutemos por eles. E mesmo se no passado não os tenhamos observado
cuidadosamente, o shofar diz que nunca é demasiado tarde para começar. D'us
sempre perdoa o passado ao tomarmos boas decisões para o futuro.
Esta é a mensagem final do shofar, aquela do perdão Divino. Por isso, o
último som do shofar é um toque longo, a Tekiá Guedolá (grande toque). Este
som não representa soluço, nem suspiro ou lamento, mas um grito de triunfo e
alegria; pois estamos confiantes de que D'us aceitou o nosso arrependimento.
Podemos notar esta expressão de alegria na
melodia dos versos recitados logo após os toques. Enquanto os versos
recitados antes são solenes, os que os seguem falam da alegria, que brota
após um arrependimento sincero. Este é o real significado de ouvir,
compreender e obedecer a voz do shofar.
Esta é a ordem dos toques do shofar:
1. Tekiá – Shevarim – Teruá – Tekiá
2. Tekiá – Shevarim – Tekiá
3. Tekiá – Teruá – Tekiá
O som de cada grupo é repetido três vezes, totalizando trinta toques. No
total, durante o serviço matinal de Rosh Hashaná, o Shofar é tocado cem
vezes (cada um dos sons acima mencionados é tocado três vezes e isto é
repetido três vezes durante o serviço, somando noventa toques; no final,
toca-se mais uma vez o grupo de dez, perfazendo os cem toques).
Os sons quebrados de Shevarim e Teruá lembram estes suspiros e gemidos
abafados que penetram no coração, e servem para despertar a pessoa ao
arrependimento e ao retorno. A Tekiá Guedolá – o último toque longo do
shofar soa como uma nota mais alegre e lembra o grande dia, quando o grande
shofar será tocado para reunir do exílio todo o povo de Israel, com a
chegada da Era Messiânica.
Qual é o significado do toque
do shofar?
O shofar nos chama para acordarmos de nossa letargia mental pelas coisas
terrenas e clama para que possamos despertar e nos envolver com as
necessidades de nossa alma. É como um alerta: nos inspira temor lembrando
que este é o Dia de nosso julgamento.
A mensagem do shofar, segundo Maimônides, é:
"Acordai de vosso sono e ponderai sobre os vossos feitos; lembrai-vos
do Criador e voltai a Ele em penitência. Não sejais daqueles que perdem a
realidade de vista ao perseguirem sombras ou esbanjam anos buscando coisas
vãs que não lhes trazem proveito. Olhai bem vossas almas e considerai vossos
actos; abandonai os caminhos errados e os maus pensamentos e voltai a D'us,
para que Ele tenha misericórdia para convosco!"
Esta é a função mais importante dos
sons do shofar: inspirar a alma e provocar vibrações extraordinárias no
coração, activando o sentimento do arrependimento e humildade.
O despertar de nosso sono
O som do shofar é como o chamado de uma trombeta, despertando-nos de nosso
sono. Estamos tão atarefados com os interesses do dia a dia – escola,
trabalho, diversão – que tendemos a ficar indiferentes ao nosso verdadeiro
objectivo na vida, como se estivéssemos imersos em sono profundo.
Rosh Hashaná, o ano novo ano judaico, nos
desperta para planejarmos o cumprimento de mitsvót (mandamentos) e o estudo
de Torá para o ano que se inicia.
Rabi Saadyá Gaon nos ensina aqui dez diferentes maneiras do shofar nos
inspirar a viver uma vida melhor o ano inteiro:
Um
Quando um novo rei começa a governar, é expedida uma proclamação,
acompanhada por toques de trombeta. A cada ano naquele dia, seu governo é
novamente proclamado, também com o som da trombeta.A Criação do Mundo foi
completada em Rosh Hashaná, e o reinado de D'us começou no mundo. A cada ano
neste dia, proclamamos novamente Seu governo com o toque do shofar.
Dois
Quando um rei emite um decreto, o chifre soa e um sinal de aviso é
anunciado.
Os Dez Dias de Teshuvá (Penitência) começam com Rosh Hashaná.
"Aperfeiçoe-se!" – somos advertidos, e quando este decreto é emitido, o
shofar ecoa.
Três
Quando recebemos a Torá nas encostas do Monte Sinai, o som do shofar enchia
os ares.
Neste dia de Rosh Hashaná nós nos dedicamos à vida de Torá novamente, e o
som do shofar enche o ar.
Quatro
As palavras de nossos profetas de antigamente soam como um toque do shofar.
Lembramo-nos de suas palavras correctivas, quando ouvimos o toque do shofar.
Cinco
Nossos inimigos tocaram suas trombetas quando destruíram nosso Sagrado
Templo – o Beit Hamikdash.Quando tocamos o shofar em Rosh Hashaná, rezamos
para que o novo ano traga a reconstrução do Beit Hamikdash, para que nossos
pecados sejam perdoados.
Seis
Yitschak (Isaac) de boa vontade se ofereceu em sacrifício, como D'us
ordenou, mas no último instante foi substituído por um carneiro.Em Rosh Hashaná
tocamos um chifre de carneiro para lembrar-nos – e a D'us – da devoção de
nossos antepassados.
Sete
"Poderá o shofar soar na cidade e o povo não tremer de medo?"
O shofar nos faz estremecer no temor do julgamento de D'us.
Oito
"Próximo está o dia do (julgamento) de D'us: perto, muito rápido, o dia do
shofar."
O shofar de Rosh Hashaná nos recorda do dia do Julgamento Final.
Nove
"E será naquele dia, soará o Grande Shofar, e os desgarrados virão da Terra
de Ashur, e os rejeitados da terra do Egipto." O toque do shofar nos lembra
do grande “chifre” que anunciará a vinda do Messias – esperamos e rezamos
para que soe este ano, para reunir todos os judeus dispersos pelo mundo
afora.
Dez
"Os habitantes do pó… quando o shofar será ouvido."
O shofar nos lembra do dia da Ressurreição dos Mortos, quando estes se
levantarão de seu sono.
Uma lição de humildade
Rosh Hashaná chama-se também Yom Teruá (Dia do Toque). Neste dia, é
obrigação de cada judeu ouvir o shofar. Por ser finalidade do shofar
inspirar-nos humildade e sentimentos de arrependimento, podemos compreender
o porquê do shofar não ser ricamente decorado.
Os ornamentos não o tornam inadequado, desde que fiquem apenas do lado
externo sem que suas paredes sejam perfuradas. Isto nos serve como lição da
importância da simplicidade e humildade. Como o shofar que se torna
inadequado se qualquer ornamento de ouro ou prata atravessar o osso do qual
é feito, assim também nos tornamos seres humanos insignificantes se
permitirmos que o ouro e prata sejam tão importantes na vida a ponto de
"perfurar o osso" e se apossar da mente e da alma.
Clique aqui para ouvir o som do Shofar
Shaná Tova Umetuka!
Bibliografia:
http://www.chabad.org.br/datas/rosh/indexAt.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Shofar
http://www.aish.com/hhRosh/hhRoshDefault/Symbolism_of_the_Shofar.asp
http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/Judaism/shofar.html
http://www.netjudaica.com.br/