Mensagem de dr. Samuel Levy

Presidente da Comunidade Israelita de Lisboa

Senhor Presidente da República
Senhor Vice-Presidente da Assembleia da República
Senhor Ministro das Obras Públicas, Transportes e Habitação
Senhor Ministro da Cultura
Senhor Embaixador de Israel
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Lisboa
Senhor Rabino Dr. Abraham Levy
Senhor Bispo Auxiliar do Patriarcado de Lisboa
Senhor Presidente da Comunidade Islâmica de Lisboa
Senhores Delegados de outras confissões religiosas aqui representadas
Senhores Membros da Comissão de Honra e da Comissão Organizadora


Minhas Senhoras e meus Senhores

É uma grande honra, para a Comunidade Israelita de Lisboa, acolher V.Exas. no seio desta Sinagoga que em breve vai completar 100 anos de existência. Por isso muito apreciamos e agradecemos a vossa presença, neste momento tão importante da nossa vida.

Iniciamos estas comemorações com o centenário da colocação da 1ª pedra desta Sinagoga que teve lugar no dia 25 de Maio de 1902, e que foi inaugurada em 18 de Maio de 1904.

Esta celebração transcende, pelo seu significado, os 100 anos de uma edificação. Com efeito, foi o lº edifício construido de raiz, como Sinagoga, em Portugal, após mais de 300 anos, do estabelecimento da Inquisição em Portugal. Os judeus começaram a regressar a Portugal, no princípio do século XIX e, durante cêrca de 100 anos exerceram o seu culto em locais diversos adaptados a Sinagoga.

A possibilidade da construção de uma Sinagoga, de raiz, e de ela ter tido uma existência regular e condigna ao longo destes quase 100 anos diz muito sôbre o relacionamento do Estado português com a comunidade judaica.

Testemunha um respeito pela nossa existência e pela nossa confissão religiosa . A- pesar de todas as transformações políticas por que o País passou ao longo destes 100 anos, êsse respeito nunca foi posto em causa. Com os exemplos que todos conhecemos , não é demasiado enaltecer esta atitude. E por isso, Senhores governantes deste País, aqui manifestamos a nossa satisfação por êsse respeito de que temos sido alvo e que, certamente, permitirá dar uma maior expressão prática à Lei da Liberdade Religiosa recentemente aprovada.

Os judeus , apesar das vicissitudes por que passaram em Portugal, sobretudo, a partir do século XVI, nunca deixaram de se considerar portugueses ao longo dos 300 anos a que foram obrigados a viver noutras paragens que os acolheram.

Devem ser raras estas fidelidades. E é por isso que ainda encontramos, hoje, volvidos
500 anos da expulsão, congregações judaicas portuguesas em vários países do Mundo, como a de Amesterdão (a Congregação Portuguesa Israelita, que ainda hoje existe, data de 1639), Curaçao (a Sinagoga data de 1732), Paramaribo (Suriname),Nova York, Londres (cujo ilustre representante se encontra entre nós) , em Bayonne, em Bordeus, Marselha, Nantes, Istanbul, etc, etc. Comunidades judaicas onde a benção aos governantes, que se profere nos dias festivos, lhes faz referência em português, como se os séculos não tivessem passado.

E como se os séculos não tivessem passado e as memórias não fossem dolorosas, houve famílias que, após 8 a 10 gerações, para cá regressaram. Mesmo os que o não fizeram nunca deixaram de ter os seus pensamentos dirigidos a Portugal. Isto, podemos bem chamar uma relação de amor com o nosso País, bem fiel e duradoura. Seria bom que essas comunidades fôssem melhor conhecidas e acarinhadas pelo Govêrno Português, podendo daí resultar, para além aspecto afectivo, um interessante intercâmbio cultural, científico e até económico, com evidentes benefícios para Portugal.

Sobretudo durante a 2ª Guerra Mundial, passaram por aqui muitas dezenas de milhares de pessoas , que ainda hoje mantem um elo de ligação com esta sinagoga.

Ela é o ponto central de interêsse por parte de muitos visitantes nacionais e estrangeiros, razão por que é importante haver aqui um Museu, com as memórias dos últimos 200 anos. Desejaríamos realizá-lo no quadro do restauro deste edifício que se fará, logo que isso fôr possível, e o desejamos seja em breve. Para isso, teremos de contar com o apoio indispensável das nossas autoridades e o apoio de instituições vocacionadas para a recuperação do património cultural.

No passado mais recente, aqui esteve o malogrado Primeiro Ministro de Israel, Itzhak Rabin; aqui foi homenageado o grande Homem que foi Aristides Sousa Mendes e aqui, há poucas semanas, teve lugar, uma Oração pela Paz , que, pela primeira vez, foi feita com a presença de representantes das religiões católica, muçulmana e de outras confissões.

A Sinagoga foi projectada pelo arquitecto Miguel Ventura Terra, (prémio Valmor) e decorada pelo pintor Veloso Salgado, que seguiram os conselhos do Prof. Dr. Joaquim Bensaude, o autor de uma imensa obra científica sôbre as descobertas portuguesas, e que foi Presidente Honorário da nossa Comunidade.

- Nesta ocasião, se me permitem, desejava, tambem, referir alguns nomes das muitas pessoas que se notabilizaram nesta Comunidade e que alguns de nós, conhecemos ao longo do século. Entre os oficiantes e rabinos, destaco os Revºs Samuel Mucznik, Abraham Castel (de Hebron e que esteve aqui mais de 30 anos), Menahem Mendel Diesendruck, de Viena, (23 anos) cujo centenário de nascimento se celebra no próximo dia 30 de Junho e Abraham I. Assor, de Tânger, (42 anos), pessoas eminentes que nos ensinaram muito e nos deixaram uma grande saudade.

Entre os dirigentes da Comunidade lembro o Prof. Moses B.Amzalak que foi Presidente de 1927 até à sua morte em 1978 e foi reitor da Universidade Técnica de Lisboa e presidente da Academia das Ciências de Lisboa, o Dr. Elias Baruel,Vice-Presidente da Comunidade de 1940 a 1973 e que, graças ao seu tacto e competência conseguiu que, durante a II Guerra Mundial, dezenas de milhares de refugiados, que por aqui passaram tivessem um acolhimento e uma estadia condignos . O dr. Elias Baruel dedicou-se, exaustivamente à realização das obras de remodelação desta Sinagoga realizadas em 1949.

Não podendo mencionar tantas outras figuras que prestaram relevantes serviços ao País e à Comunidade não quero deixar de referir, tambem, o Sr. Sam Levy que foi nosso Presidente Honorário,um Humanista de rara cultura e que se considerava o retornado mais antigo, pois em 1942 viera de Esmirna (Turquia), após 400 anos de destêrro dos seus antepassados portugueses.

Senhor Presidente da República, minhas senhoras e meus senhores: com a vossa honrosa companhia vamos iniciar uma nova etapa da nossa vida com uma crença inabalável na necessidade de os Homens, apesar das suas diferenças, se respeitarem mutuamente - o dever de amar o próximo como a nós mesmos. Para que o centenário que agora festejamos continue a celebrar-se pelos séculos vindouros e a nossa existência e a dos nossos sucessores possam beneficiar do clima de paz e concórdia, que até aqui, felizmente, tem existido.

Nós oramos a D' Todo Poderoso para que a Paz venha ao Mundo e que o Senhor proteja este PORTUGAL, tão querido de todos nós.

Muito obrigado.

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