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Ser quem realmente somos!
Ao tornar-me religioso pensei que me tinham acabado as cores da primavera, os
saldos invernais das lojas e as demais vestimentas para as substituir por um
traje à Charles Chaplin.
O que é a roupa? O que representa? Porquê que o Judaísmo coloca ênfase no traje
adequado?
Como tudo na vida, para compreendê-lo não devemos rebaixar à superficialidade
das coisas, mas penetrar na origem das questões. A roupa e a maneira como nos
vestimos é praticamente a forma principal que nos mostramos exteriormente.
Através da roupa podemos desempenhar nos diversos papéis que assumimos ao longo
da vida. Quando estamos de uniforme identificam-nos como estudantes, com uma
raquete na mão como um jogador de ténis, com boa roupa como uma boa posição
social e assim sucessivamente podíamos dizer que a roupa é o nosso cartão de
visita ante o mundo que nos rodeia.
Este é um primeiro nível, mas vai muito mais além. O vestuário é o reflexo do
nosso interior, projectamos no nosso exterior o que o nosso interior entende que
apropriado para nos auto investirmos, assim como um Rei se sente cómodo usando
uma coroa porque o seu interior reclama um prestígio e um boémio andará com um
gorro de Bob Marley demonstrando assim aquilo em que acredita e com que aquilo
que se identifica. Imaginemo-nos no nosso exterior como um quadro vazio, como
uma folha de papel que devemos preencher com atributos que nos caracterizem, a
arte de vestir é arte de nos demonstrarmos...
Poder manifestar o que sou através do vestuário. Mas temos que ser sinceros!
Infinidades de vezes aparentamos algo que não somos e somos algo que não
aparentamos, infinidades de vezes encontrei-me com gente que vestia de uma
maneira, e era de outra, isso cria uma confusão e nos leva a pensar: Quem é
realmente essa pessoa?
Partindo destas duas premissas básicas quis reforçar a minha análise. Vivemos
num mundo exterior em que a profundidade é cada vez mais longínqua, portanto,
certas vezes devemos desempenhar um determinado papel para não criar uma
dualidade naqueles que nos observam! Da mesma maneira que um médico coloca uma
bata branca para ser identificado como tal, para nos desenvolvermos num mundo
espiritual, devemos vestirmo-nos com formalidade, recato e dignidade! E esta é
uma experiência incrível pois obriga a desenvolver em nós, uma personalidade
autêntica, já que se nos vemos mais ou menos iguais, para nos diferenciarmos
devemos tirar de nós o que está cá dentro, no interior e isso torna as relações
humanas e a nossa atitude um tanto mais divertida.
Infelizmente os de fora concebem-nos de uma ideia errónea daquilo que
verdadeiramente somos e não penetra para vermos na realidade, da mesma maneira
que nos concentramos. Na sensibilidade do que está à nossa frente! Seguramente
perguntarão: Onde ficou a personalidade, onde ficou a expressão do que somos?
Precisamente onde se deve manifestar na realidade, no carácter, no diálogo, na
acção...
A formalidade, o recato, a dignidade?! Sim. Pois somos mais do que marcas, somos
muito mais do que aquilo que nos vendemos ao exterior, somos um mundo interior e
por onde tanto as mulheres como os homens limitam-se a ser o que são e não o que
vendem através do exterior. Sabermos o poder que tem a técnica do mercado, e por
isso buscamos a verdade!
A vida é um teatro, da mesma forma que se faz um desenho, o vestuário é a
máscara das suas personagens, aqueles que estão conscientes de que vivem uma
obra devemos assumir o nosso papel e desempenhá-lo, mas sendo quem realmente
somos....
Rabi Shlomo Haim Vaknin
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