Momento de Reflexão

DOIS RAIOS DE ESPERANÇA
“Vou novamente ser chamada de Mãe”

A dor por ter perdido a sua filha Masha, de 14 anos, fez com que Olga Tagiltsav abortasse, perdendo o ser que trazia no seu ventre. Após algumas tentativas, conseguiu engravidar novamente. Hoje, ela embala o seu filhinho, nos braços; a sua enorme tristeza está levemente tingida de alegria.
“Espero, ao menos, poder ter outros filhos; senão a minha vida está acabada”, implorava Olga Tagiltsav (35), aos prantos, após o ataque terrorista ao Dolphinarium, no qual a sua filha única, Masha tinha sido morta. Logo nas primeiras horas da manhã da última sexta-feira, ela ainda tinha lágrimas nos olhos – mas, desta vez, eram lágrimas de júbilo, pois o seu bebé, um menino, acabara de nascer e agarrava, com a mãozinha, o seu dedo.

“Estou tão feliz”, disse com a voz trêmula. “É uma maravilha receber este presente dos Céus, após quatorze meses tão difíceis, sem ter ninguém para me chamar de “mãe”. O silêncio sepulcral que invadiu a minha casa desde o dia do ataque era insuportável. Sinto tanto que Masha não esteja conosco, que chega a doer, mas estou a transbordar de alegria. O meu coração está dividido entre a dor e a felicidade. Queria muito que fosse menina, mas ao mesmo tempo tinha medo de que, ao olhá-la, visse a Masha diante de mim. Estou feliz por ter sido um menino e especialmente porque, depois de tanto tempo, alguém vai novamente me chamar de ‘mãe”!

“Alguns meses após o ataque à discoteca, achei que estava a enlouquecer”, conta Olga. “Toda a menina que eu via na rua fazia-me lembrar a minha filha. Doía também ver os outros jovens que tinham sobrevivido ao ataque. Só depois de ler os testemunhos deles pude entender o terror pelo qual tinham passado”. Alguns meses após o ataque, após fracassarem as suas tentativas de engravidar, Olga decidiu buscar ajuda médica.

“Na verdade, perdi dois filhos no ataque, pois estava no início da gravidez e quando ocorreu a tragédia, tive o aborto”, continuou, juntando os factos.“Quando fui ao médico, pois não conseguia engravidar após aquela desgraça, ele disse-me que eu não precisava de tratamento, pois já estava grávida! Aquela foi a primeira vez em que eu sorri após o ataque terrorista”.

Após uma das explosões suicidas, a de Natânia, Olga teve contrações. Por essa razão, ficou de repouso até o final da gravidez, por ordem médica. No entanto e apesar de seus temores, o bebé nasceu saudável, a termo – e lindo! “Três quilos e seiscentos gramas de puro júbilo”, elaconta, rindo. Volta e meia ela toca,carinhosamente, a criança, que dorme tranqüila e que ainda não recebeu seu nome – e pergunta, apreensiva: “Ei, pequerrucho, você está vivo?”

Hoje, ela está para receber alta da maternidade, mas o seu coração está intranquilo. “Tenho medo de olhar para o futuro”, admite, com tristeza. “Ninguém tem segurança, em Israel, e é impossível fazer planos. Quando cheguei a Israel, sonhava ser avó. Mas, de repente, lá estou eu começando tudo de novo. Tenho medo de pensar como será quando o meu filho crescer”.

Quinzenalmente, ela visita o túmulo da filha, no cemitério de Natânia. “Até agora não consegui acostumar-me com a ideia de que ela não está mais entre nós. Falo com ela todas as noites, antes de me deitar. Quando o meu filho for um pouco mais velho, vou-lhe contar que ele tinha uma irmã e o quanto ela o amaria, se estivesse viva. Quero ter mais um bebé – uma menina, a quem darei um nome parecido com Masha – Michelle, quem sabe”.

Por Natasha Mozgovia, Jornal Yediot Achronot, 28.07.02

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