Rostos da CIL
Entrevista com José Oulman Carp
Eleito há pouco tempo, José Oulman Carp é o novo Presidente da Comunidade
Israelita de Lisboa.
Num momento em que precisamos, acima de tudo, de novas ideias e de uma nova
forma de actuar, não podíamos deixar de dedicar este espaço de entrevistas ao
novo líder da Direcção.
Ao novo grupo de trabalho e, particularmente, a José Oulman Carp, desejamos a
maior sorte e deixamos os votos de um bom trabalho!
P: Nasceu em Portugal e aqui vive hoje. Mas como foi a sua juventude e de
que forma esteve ligado à CIL?
R: Eu nasci em Portugal, mas aos nove anos fui para Inglaterra, para uma
escola interna. Até aos meus vinte e sete anos vivi sempre no estrangeiro, e só
vinha a Lisboa durante as férias.
Cheguei a fazer a minha Bar Mitzvá na Sinagoga Shaaré Tikvá, em Lisboa, mas
nunca tive um contacto muito forte com a CIL, nem com comunidades judaicas no
estrangeiro.
Apesar disso, decidi ir para Israel em 1967, onde vivi até 1971. Vivia então
em França mas senti uma necessidade muito forte de deixar o que estava a fazer e
viver novas experiências, para além de uma atracção muito grande por Israel.
Cheguei a Israel a 3 de Junho de 1967 e a Guerra dos Seis Dias rebentou a 6
de Junho. Foi mesmo uma experiência!
Entretanto, em 1971, acabei por ter que regressar a Lisboa. O meu tio Alain,
músico conhecido (escrevia músicas para Amália), foi preso devido a contestações
ao regime de direita em Portugal, acabando mesmo por ser expulso do país. O meu
avô, com a saída do meu tio de Portugal, acabou por ficar sozinho à frente da
empresa que os dois conduziam e, perante a impossibilidade de dirigir os
negócios sem ajuda, convidou-me para vir para Lisboa e trabalhar com ele.
Foi então que retomei o contacto com a CIL. Participava em alguns eventos e
em certas actividades mas, como não tinha passado a minha adolescência aqui, não
tinha muitos amigos da minha idade; aliás, estava mesmo mais ligado às pessoas
mais velhas do que às mais novas.
Por aqui fui ficando e, visto o meu tio Alain não ter regressado a Portugal
por ter decidido fazer a sua vida profissional em Paris, continuei à frente dos
negócios da minha família.
Pensei muitas vezes em voltar para Israel, mas a idade do meu avô fez com que
eu optasse por ficar aqui. Senti que o meu dever era ajudá-lo e esse sentido de
dever acabou por prevalecer sobre a vontade de voltar para lá.
P: O que sente, agora, como novo Presidente da CIL?
Nunca pensei vir a assumir este lugar. É um cargo que muito me honra ocupar,
sobretudo por suceder a Direcções e Presidentes tão ilustres como os que
passaram.
Agrada-me, acima de tudo, trabalhar com uma Direcção como a que acaba de ser
eleita, um grupo de trabalho que reúne pessoas muito capazes e motivadas,
pessoas que certamente estão à altura de procurar fazer face aos problemas que
se atravessam pelo caminho da CIL.
Estamos cheios de entusiasmo para dar o nosso melhor contributo e esperamos
que a situação global melhore! E, sobretudo, desejamos que haja paz em Israel, o
que em muito nos ajudaria.
P: Quais são as suas prioridades à frente da nova Direcção da CIL?
Para mim, um dos sectores mais complicados é o sector financeiro. A parte
patrimonial tem, seguramente, que ser esclarecida e clarificada e, acima de
tudo, temos que resolver o problema do Centro e da sua reabilitação e que
dedicar toda a atenção possível à conservação e melhoramentos da Sinagoga.
Tirando a parte patrimonial, acho que devemos investir fortemente na educação
da juventude, uma educação que não pode ser desligada da religião. A Juventude é
muito importante no nosso programa; está-se a registar um aumento no número de
jovens mais novos e o projecto é e tem que ser o de acompanhar esse crescimento,
sempre lado a lado com a referência religiosa. A nossa História, a nossa
cultura, as nossas tradições, a nossa música, danças, literatura, tudo o que
temos de tão especial e único tem que ser passado às novas gerações!
Ao mesmo tempo, damos toda a importância à Sinagoga e à vida espiritual de
toda a Comunidade, outra das nossas prioridades. Olhamos com um respeito e
carinho muito especial todos aqueles que dão vida à nossa Sinagoga, o centro
espiritual de todos nós.
Acima de tudo, reitero a nossa forte motivação e grande vontade de trabalhar
em nome de um futuro melhor para toda a nossa Comunidade!
Entrevista conduzida por
Diana Ettner