Israel em foco

Previsões antes do jogo - por Gabriel Steinhardt

Previsões... só depois do jogo. E sobretudo num país como Israel. Mas não me importo que me chamem “tonto” (como o Gimpel do livro de Bashevis Singer) e vou arriscar afirmar aqui que dificilmente Ariel Sharon não ganhará as eleições de 28 de Janeiro.
Mas desenganem-se os que pensam que vão comemorar uma enorme vitória da direita. Há dois anos e meio que os atentados terroristas palestinianos se repetem sem interrupção em Israel. E que se sucedem represálias das forças de segurança. Há mortos. Há feridos. Há pessoas cuja vida nunca mais será a mesma. E cada vez se acredita menos que haja solução. De certa forma, nestas eleições, a ideologia poderá ceder o seu lugar à apatia: não se vislumbra nem o líder nem o rumo em que se gostaria de poder acreditar. Entre os problemas de segurança interna, as dificuldades económicas com as suas graves consequências sociais e a ameaça de um novo bombardeamento iraquiano, não é fácil levar hoje em Israel, pelos nossos parâmetros, uma vida normal. Mesmo no Likud a maior parte dos eleitores não são “de direita”. No fundo, vinte e quatro horas depois de um atentado já nem odeiam os árabes. E quase todos percebem que não se justificam colonatos de 10 pessoas com 20 soldados a guardá-las. Todos querem uma separação da Palestina e, na realidade, a discussão centra-se sobre a forma mais inteligente de a conseguir.
Depois das experiências diferentes mas de resultados igualmente negativos com Bibi Nethanyahu (1996) e Ehud Barak (1999) mais ninguém acredita em milagres. Pretende-se um processo longo... mas seguro. Sem armadilhas e sem rasteiras. Amram Mitzna, o recém eleito líder trabalhista, tem um longo trabalho de reconstrução do partido pela frente e ainda não é visto como um verdadeiro líder à escala nacional.
Quatro anos são uma eternidade nesta região e resta-nos esperar que Arik Sharon consiga aproveitá-los para deixar a sua marca positiva na história do médio-oriente. Os principais obstáculos são dois: por um lado, Yasser Arafat, que terá de ser promovido a uma espécie de “rainha-mãe” britânica ou transferido para a “Polinésia”, uma ideia que os próprios palestinianos provavelmente também aplaudiriam. Por outro lado, a questão do terror, esta mais complicada. Mas os palestinianos já provaram no passado que, se isso for uma prioridade nacional, conseguem controla-lo.
Muito dependerá das alianças pós –eleitorais que Sharon consiga fazer para obter a maioria parlamentar ou formar governo. Como habitualmente, as opções são os partidos da esquerda, o Meretz e o Shinui, que dificilmente entrarão numa coligação liderada por ele. A pior opção, a meu ver, seriam os partidos de extrema direita, o NRP (de Effi Eitam), o Yisrael Beitenu (de Avigdor Lieberman) e o Moledet (de Benny Elon), devido às suas conhecidas posições radicais. O trabalhista Mitzna já afirmou que não se juntará nunca a Sharon mas, a verificar-se este cenário, talvez se venha obrigado a tornar-se o “fiel da balança” de que Israel vai seguramente precisar. Oxalá.

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