Razão de ser...

Uma Comunidade Israelita? Em Lisboa? Porquê? Para quê ? Alguns de vocês já colocaram estas perguntas a vós próprios? E que respostas obtiveram? Pois bem, já que esta página é para reflectir façamo-lo, tranquilamente... e tentemos encontrar algumas respostas.
Os judeus na Diáspora, são em geral, minorias dispersas no meio de populações não judias, como é o nosso caso em Lisboa. Em tudo o que se refere ao estilo de vida, à educação, à cultura, à profissão, às diversões, ao convívio, etc, temos tido, felizmente, uma óptima integração no País. E isto acontece desde que os nossos antepassados começaram a regressar a Portugal há cerca de 200 anos. Nem sempre foi assim. Por isso temos que dar graças a D’us e fazer votos que assim continue.
Esta integração, por muito boa que seja, não se ocupa da nossa identidade como judeus. Sem querer definir o que é um judeu (não faltaram tentativas para o fazer) há um elo indiscutível: os judeus identificam-se como membros de uma religião. Seja qual for o matiz de adesão à fé judaica, todos os judeus estão irmanados pelas raizes dessa fé e pelos antepassados que a transmitiram. Nem mesmo em casos extremos de pessoas que se consideram sem qualquer fé religiosa, elas escapam à identidade judaica.
Essa identidade que emana da religião judaica cria a necessidade de haver um meio para ela se afirmar, ser vivida e assegurar sua continuidade . É por isso que os judeus onde quer que se encontrem, e na Diáspora com maior razão, se organizam em comunidades para que, mais facilmente, possam assegurar a vida judaica que cada um entender seguir, através do ensino dos seus valores e princípios, da sua cultura, das práticas religiosas colectivas (culto, festas,casherut, guemilut hassadim, cemitério, etc) e privadas ( mikvê, berit milah, preparação para bar/bat mitsvah, casamentos, divórcios, lutos, etc). Estas são algumas das funções fundamentais que cabe a uma Comunidade jurídicamente constituida, organizar.
Evidentemente que há outras funções importantes a organizar como sejam, a defesa dos direitos dos judeus como tal, a assistência e a solidariedade social (Somej Nophlim), a promoção do convivio e a actividade social de toodos os membros da Comunidade qualquer que seja a sua idade ou estrato social, os contactos e intercâmbios com outras comunidades e organizações judaicas no País e no estrangeiro, o relacionamento e a solidariedade com Israel, a divulgação cultural, o relacionamento com outras comunidades e culturas religiosas, etc..
Ao congregar os judeus de uma certa cidade ou região, uma comunidade judaica tem razão de ser porque reune indivíduos de uma mesma religião. É portanto, à partida, uma instituição de carácter confessional. E é nesta qualidade que o primado da sua actiividade é assegurar que o estudo e a liberdade da prática da religião judaica sejam assegurados aos seus membros nos termos da tradição que cada um desejar seguir. O respeito mútuo e a tolerância entre as pessoas são princípios básicos.
Para além do desenvolvimento espiritual da religião as Comunidades têm de proporcionar aos seus membros uma vivência ligada às celebrações temporais e aos ritos que se desenvolveram ao longo das gerações. Instrumento importantíssimo para esta vivência é a Sinagoga, local de encontro (=bet hakenesset). É, portanto uma responsabilidade da Comunidade Israelita de Lisboa (da Direcção, do seu Rabino e de cada um dos correligionários) acarinhar e promover as iniciativas que promovam uma Sinagoga viva. Por essa razão, para além dos membros da Direcção da Comunidade, os “Parnassim” da Sinagoga devem ajudar a realizar este objectivo.
A outra grande prioridade da Comunidade é assegurar que as funções ligadas à religião judaica e a que já nos referimos, tenham uma entidade responsável e competente que dê o apoio necessário a todos (dirigentes ou não) sobre as normas religiosas a seguir, tudo dentro dos padrões tradicionais que tem sido adoptados pela Comunidade de Lisboa nos últimos 100 anos. Essa mesma entidade deve promover o ensino da cultura judaica (lingua hebraica, Torah, Talmud, costumes), a prática da solidariedade social, a maior participação dos correligionários na vida judaica da Comunidade, nomeadamente na Sinagoga, a supervisão do casherut, a formação dos jovens e a orientação jurídica judaica em todos os actos de culto ou da vida (nascimento, casamento, morte, etc). Essa são as funções, entre outras, do Rabino da Comunidade.
É por isso, que foi preocupação das últimas Direcções da Comunidade de que fizemos parte e da actual – disso estou certo - que as duas importantes vertentes que são a Sinagoga e o Rabino cumpram a sua importante missão inadiavelmente, se quisermos sobreviver e se quisermos que os nossos filhos e netos sejam judeus dignos desse nome.

Samuel Levy

Esta rubrica é um espaço para opiniões, questões, críticas ou manifestações sobre assuntos relacionados ao judaísmo e a nossa Comunidade.
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