A longa história do "Hehaber"
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O “HEHABER”, Associação da Juventude Israelita nasceu em 1925, criada por
jovens israelitas de Lisboa. Tal como as suas congéneres internacionais da
Union Universelle de la Jeunesse Juive, na qual também é filiada, os
objectivos e a acção do Hehaber eram claramente sionistas, tal como expressa o
artigo 2.f ) dos seus estatutos, aprovados a 1 de Dezembro de 1931: “Promover
o interesse pela reconstituição de Erez Israel (Palestina) trabalhando
activamente nesse sentido”. E, com efeito, a partir de 1926 o Hehaber passa a
representar em Portugal o Keren Keyemet Le Israel. Com a primeira sede na rua
Alexandre Herculano nº 117, o Hehaber lança, logo em 1929, um apelo a
donativos e socorro “aos nossos irmãos palestinianos” (judeus) vítimas de
perseguições árabes. Esse apelo é assinado, entre outros, por Matilde
Bensaúde, Sarah Benoliel, Moisés B. Amzalak, Artur C. Barros Basto e Samuel
Schwarz.
A sua actividade é tão intensa que a sede torna-se pequena e em 1932, o
Hehaber solicita à Comunidade Israelita um empréstimo de mil escudos para o
aluguer da nova sede, na Av. Miguel Bombarda, 133-R/C esq. Com a subida ao
poder de Hitler na Alemanha, o Hehaber nomeia uma comissão “para prestar
auxílio aos nossos correligionários que, em virtude das perseguições
anti-semitas da Alemanha, procuraram asilo em Portugal”.
Segundo uma circular datada de 14 de Maio de 1933,
o Hehaber já aloja e mantém, nessa altura, 40 pessoas e a despesa diária é de
250$. A circular refere que a “situação é verdadeiramente angustiosa (...) e
vai-se prolongar até que da Palestina chegue a ordem para os embarcar para
aquela terra de salvação”. Assim “qualquer donativo, por diminuto que seja
será sempre muito valioso”. Assinam esta circular os membros da comissão,
nomeadamente, Donna Benoliel Levy, Hannah Sequerra, Sophia Abecassis, Raquel
Amram, Fritz Neumann, Samuel Pariente e Siegfried Hiller. Nos relatórios e
contas referentes aos anos de 1936/37, a actividade do Hehaber é múltipla e
variada: concertos, conferências, excursões, bailes, biblioteca...De todas
estas actividades, duas merecem um especial destaque: a acção sionista,
preparando “halutzim” para a emigração para a Palestina, acompanhada da
consequente distribuição de certificados para a emigração; e, no seguimento do
fecho da Escola Israelita em 1937, a reunião regular dos jovens do Hehaber,
para o Rabino Diesendruck “desenvolver os conhecimentos de hebraico, história
do nosso povo, do seu folclore..., à qual comparece sempre uma média de 40
rapazes e raparigas entre os 12 e 23 anos”.
Na sua longa história, o Hehaber comemorou duas datas marcantes: “A libertação
da Europa” com um “Grande Baile da Victória”, a 26 de Maio1945, na Av Elias
Garcia nº 110, e um concerto a 29, pela pianista Nella Basolla Maissa; e a
Independência do Estado de Israel, em 1948, que já será comemorada no Centro
Israelita de Portugal, na Rua Rosa Araujo, 10, onde o Hehaber se instala pouco
depois da sua inauguração a 19 de Janeiro do mesmo ano. A partir desta altura
as duas siglas confundem-se: em todos os relatórios, documentos, etc...surge
apenas um nome: Associação da Juventude Israelita “Hehaber” - Centro Israelita
de Portugal.
Em Dezembro de 1971, segundo o relatório da Direcção publicado em 1974, os
sócios são 280 e as actividade variadas: seminários, festas, conferências,
excursões, jantares das quintas-feiras..., e todos os Sábados à tarde, o grupo
B’nei Akivá organiza “reuniões com uma frequência variável entre 35 a 40
jovens”. Em 1978 o nº de sócios decresce para 154. A instabilidade da situação
política no pós 25 de Abril reflecte-se também na Comunidade e no Hehaber, que
apesar de tudo continua a sua actividade e ganha um novo impulso a partir de
1978. Este é, no entanto, de pouca dura e o Hehaber vai diminuindo
gradualmente a sua actividade, acompanhando a degradação progressiva das
instalações do Centro Israelita. A história não se repete, mas nada poderá
apagar o papel único que esta organização desempenhou ao longo de mais de seis
décadas, não apenas na organização e educação da juventude israelita de
Portugal, mas também no apoio aos refugiados da II guerra, na acção sionista e
na cultura judaica em Portugal. Recentemente numa visita a Israel, ao Museu da
Diáspora, tive a surpresa de ver numa exposição temporária dedicada à
actividade sionista na diáspora, a bandeira do Hehaber que alguém terá levado
daqui e oferecido ao museu. E, naquele momento pensei que os fundadores do
Hehaber ficariam certamente felizes se soubessem que a sua bandeira se
encontra no país com o qual tanto sonharam e que, com o seu modesto
contributo, ajudaram a tornar realidade.
Esther Mucznik
Este artigo foi feito com base em documentos do Arquivo da Comunidade
Israelita. Pode conter lacunas, omissões ou erros. Peço a quem os detectar que
me envie os seus reparos e contributos.