Israel em foco

"À Direita ou à Esquerda ou ao Centro, meu General?", por Gabriel Steinhardt

Devo confessar que, nesta noite pós-eleitoral em Israel, me é particularmente difícil cumprir o prazo de entrega deste artigo, já que não posso deixar de mencionar os resultados das eleições. A esta hora tardia da noite, com ainda muitos votos por apurar, as incógnitas são bem grandes, e como as declarações dos políticos geralmente “não se escrevem”, não me darei sequer ao trabalho de referir as que já foram feitas.
A percentagem de 68,5% de participação foi a mais baixa de sempre na história de Israel e isto só pode significar que a população está, por um lado, extremamente preocupada com os constantes ataques terroristas, a complicada situação socio-económica do país e a perspectiva de um conflito armado no Iraque e, por outro, relativamente apática em relação aos seus líderes, duvidando da sua capacidade de resolver estes problemas. Quando estes meus comentários chegarem ao leitor, Ariel Sharon, após a grande vitória eleitoral de hoje do Likud , estará provavelmente ultimando as suas negociações para a constituição do seu novo governo. Amram Mitzna, o grande derrotado e recém eleito líder do partido trabalhista, estará já mais conformado. Porém, a história do próximo governo de Israel não vai ser escrita apenas por estes dois generais. À “direita” de Sharon, há pelo menos três partidos candidatos a uma parceria com posições muito mais duras do que as suas em relação ao problema palestiniano: a União Nacional, o Herut e o Partido Nacional Religioso. À “esquerda” de Mitzna estão, em primeiro lugar, como parceiros improváveis, os cinco partidos árabes e também o Meretz - outro dos grandes derrotados destas eleições – advogado de grandes concessões em prol dos palestinianos. Ao centro de toda esta panóplia, destaca-se a grande revelação destas eleições, o Shinui, que hoje se tornou o terceiro maior partido do país, contrabalançando com nada mais nada menos do que cinco partidos ultra-ortodoxos. Este lugar foi conquistado graças a um discurso bastante “monotemático” mas que não podemos deixar de considerar, no mínimo, curioso, afirmado-se “anti-clerical”, a favor da igualdade de direitos e obrigações e contra os benefícios exagerados de que usufruem em Israel os tais religiosos ultra-ortodoxos. O seu líder, Yossef “Tommy” Lapid, um conhecido e polémico jornalista “de língua afiada” não está com meias palavras e recusa sentar-se num governo em que participem os ultra-religiosos, por achar injusto que sobre estes não recaia o enorme esforço imposto aos seus compatriotas mais ”seculares”, especialmente no tocante às obrigações fiscais e militares. Completando o mosaico, candidataram-se outros partidos de fraquíssima expressão e importância, desde os que pretendem defender melhor os “direitos” dos emigrantes da ex-U.R.S.S. e passando por outros ainda mais caricatos como os verdes e partidos defensores dos “direitos do homem como chefe da família” ou da legalização das “drogas leves”. É numa destas direcções que o General Sharon terá de marchar... Será que vai conseguir? E se conseguir, será que se vai aguentar muito tempo na formação?

To his Memory - “O nosso astronauta”, por Bernardo Guerra Abecasis

A missão do Ilan Ramon era uma nova esperança para Israel, e penso que para todos os judeus em geral, no meio de tantos problemas e más notícias que infelizmente já vão sendo habituais. Ilan Ramon uniu todos os israelitas, primeiro no orgulho do que ia fazer e do que representava, e agora também neste momento tão triste.

Ilan Ramon era filho e neto de duas senhoras sobreviventes do Holocausto e o seu pai tinha sido refugiado durante a guerra. Ilan lutou nas guerras do Yom Kipur e do Líbano e tinha feito parte do esquadrão que bombardeou o reactor nuclear iraquiano. A sua história cruza-se muito com a do próprio Estado de Israel.
É duro ter de enfrentar a frieza da realidade. Primeiro soube que perderam a comunicação com o vaivém e fiquei apreensivo sem acreditar no que estava a acontecer, depois já falavam em desintegração da nave e a partir daí rapidamente perdi toda a esperança.
Antes do acidente tudo parecia um fechar de ciclo, a conclusão bonita de uma história de vida, mas depois teve este fim terrível e inesperado.
O Ilan perdeu prematuramente a vida e deixou uma mulher e quatro filhos pequenos o que torna tudo ainda mais difícil de suportar. Ainda assim tento ver um lado positivo em todas as situações, nesta penso no próprio Ilan:
Em Maio de 1999 morreu o companheiro do João Garcia, o alpinista belga Pascal Debrouwer, na que seria a primeira subida ao cume do Evereste por um português. A primeira pergunta que Nathalie Renard, mulher de Pascal, fez quando soube da tragédia foi se o marido tinha morrido na subida ou na descida.
A maior preocupação imediata de alguém que tinha acabado de perder o marido não foi a dos seus próprios sentimentos mas se ele tinha aproveitado um momento final de felicidade. Foi algo que me ficou na memória porque acho que é a definição do verdadeiro amor. Tão simples como pensar primeiro no outro, mesmo nos momentos mais difíceis.
Neste caso acho que podemos agarrar-nos ao facto do acidente ter acontecido no fim da missão. O Ilan Ramon era um aventureiro e um lutador e a verdade é que ele conseguiu realizar o sonho de uma vida. Isso ninguém lhe pode tirar. Vendo as fotografias da missão percebe-se que o Ilan aproveitou cada momento e que estava a adorar.