Mensagem do Rabino

Quem encontramos em Purim?

Frequentemente a Bíblia parece ser um conto de fadas: a abertura do mar, a morte do malvado, a recompensa do justo. D’us é activo e a vida ordenada. Contudo, o mundo das experiências parece tão diferente, é desordenado, injusto e cruel. O mau prospera e o justo converte-se num cínico.

Um jovem disse-me “eu só queria pensar que podíamos mudar o mundo, mas agora me dou conta de quanto ingénuo era”. Vivemos hoje num mundo em que D’us está oculto, onde podemos ir buscá-lo?

Segundo Nahmanides (Espanha, séc. XII), natureza é aquilo que chamamos de milagre e aos quais nos acostumámos. A nossa vida diária está cheia de magia a qual ignoramos. Por exemplo o nascimento de um filho não nos surpreende porque já nos acostumámos. O mundano, disse Nahmanides é realmente o profundo.

Na Babilónia há 2500 anos, Aman, o primeiro-ministro do rei Achasverosh levou a cabo um plano para assassinar em massa os Judeus. Através de uma série bizarra de acontecimentos, o seu plano fracassou e ele e seus filhos foram enforcados. Convencidos de que a ameaça das suas vidas e o drama da sua salvação repentina revelava a mão de D’us, os Judeus comprometeram-se novamente com D’us e a sua Torá. O que foi por eles aceite no Monte Sinai, entre fogos e trovões, voltou a sê-lo na Babilónia por meio de uma silenciosa revelação de D’us na sua vida diária. Purim ensina-nos que podemos encontrar D’us no que está oculto e escondido. A Meguilat de Esther não está cheia de maravilhas nem de profecias e milagres, mas é uma história comum de uma primeira intenção para a solução final do “problema Judeu”. A presença de D’us é revelada através do mistério da casualidade, através de surpresas e oportunidades repentinas.

Para celebrar estes eventos é uma Mitzva embebedar-se em Purim. Quando bebemos vinho rebaixamo-nos e expomo-nos ao mundo. Alguém que pensava que estava em perigo e de repente descobre que está seguro e ri muito de alívio. Alguém que pensava que vivia sozinho num mundo hostil e de repente descobre que D’us está ali e ri com alegria. Em Purim é Mitzvá rir-se em voz alta.

Na vida diária nós vestimos máscaras para ocultar o nosso temor e insuficiência. Quando se baixa a cortina, o feiticeiro de Oz revela-se um frágil e velho homem que manipulava uma poderosa ilusão. Os poderosos e seguros disfarçam o seu terror com uma extrema segurança em si mesmo. Interiormente vivemos com terror e ansiedade.

Em Purim, colocamos máscaras não para ocultar mas para revelar o nosso verdadeiro ser, enganamo-nos das presunções que vestimos ao longo do ano. As brincadeiras de Purim são para educar e para divertir. Quem é que necessita de frágeis mecanismos para viver num mundo em que D’us até agora oculto se revelou?
A alegria não deve ser vivida solitariamente mas sim compartilhada com os outros. A alegria das pessoas enriquece o nosso sentido de liberdade por meio de reconhecimento da presença de D’us, e é por isso que em Purim enviamos comida aos amigos e damos esmola aos pobres. Aproximamo-nos dos outros para que não se perca a alegria desta ocasião.

D’us pode estar oculto, pode não intervir abertamente, contudo Ele está aí, guiando, dirigindo e causando um alegre reconhecimento num mundo desolado e aterrorizador.

Purim Sameach
Rabino Shlomo Vaknin

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