Outro Rabino - Quiçá Um Erro de Equação.

De uma equação mal feita resulta uma cadeia de erros”. Durante anos, várias Direcções comunitárias procuraram honestamente reanimar a “vida” social e religiosa algo decadente da C.I.L. através da contratação de um madrich e de um rabino.

No referente aos vários madrichim que tivemos, todos excelentes rapazes, penso não estar muito errado se disser que nenhum correspondeu a essas expectativas, ou seja, não assistimos à proliferação de actividades sociais e culturais que correspondessem aos anseios dos correligionários, tendo-se mantido a “curva descendente”. Durante a última Direcção, sob a presidência de Samuel Levy, tivemos, modéstia à parte, a visão necessária para reequacionar o problema, alterando radicalmente o perfil do colaborador que pretendíamos. Entendemos que poderíamos formar os madrichim no seio da nossa própria juventude e, uma vez definido um perfil adequado, foi relativamente fácil chegar à contratação do Marcos Prist como director executivo da C.I.L.. O repto que lhe foi lançado foi o de, no fundo, levar a cabo todas aquelas funções que os membros da Direcção não têm a disponibilidade e, muitas vezes, o know how para realizar. Para além das suas funções administrativas, o Marcos tem como objectivo criar a “oferta” de um vasto leque de actividades sociais e culturais e a implementação de uma base estrutural que sobreviva ao eventual final do seu contrato. Sob qualquer desses prismas, é hoje objectivamente possível observar que estamos a “anos luz” da situação que lhe entregamos em Janeiro de 2001, tirar a “prova dos nove” ao verificar o envolvimento de um grande número de membros de todos os níveis etários e, sem querer dizer que já está tudo óptimo, concluir que a decisão foi acertada e já estamos a colher frutos.
Alguns membros da C.I.L. (poucos mas não menos importantes por tal) reclamam justamente, e com alguma frustração, o mesmo desenvolvimento para o lado espiritual da comunidade (que é, essencialmente, uma colectividade religiosa judaica). Por vezes, porém, não basta reclamar veementemente, para que o nosso objectivo seja alcançado. Há anos que ouço estas reclamações e, que eu saiba, a comunidade nada evoluiu neste aspecto nem “apareceram mais pessoas na sinagoga” por isso, apesar do apoio dos melhores “directores” e parnassim. Ou seja, em suma, “a mensagem não passou” e os rabinos que contratamos ultimamente, estiveram para este objectivo como os tais madrichim para as actividades sociais e culturais.

É esta conclusão que me leva a sugerir que talvez seja necessário, também neste caso, reequacionar o problema e o perfil de quem o possa “levar a bom porto”. Antes de mais, quais são, afinal, os objectivos? A reflexão publicada na edição de Fevereiro do Tikva pelo já mencionado Samuel Levy, recém nomeado Conselheiro da Direcção para Assuntos Religiosos (opção que, obviamente, aplaudo), sintetiza bem os mesmos: o ensino da religião e das tradições, a realização das práticas, rituais e costumes públicos e privados, a dinamização da sinagoga, a formação religiosa dos jovens e, por fim, o mais difícil de realizar: o envolvimento de um maior número de membros. Mas, admitindo que existe um “super rabino” que todos gostaríamos de ter, será que é ele quem pode ajudar a alcançar esses objectivos? Será que o perfil da pessoa que os pode concretizar corresponde sequer ao de um rabino? Não pretendo ser dogmático, mas tendo a responder negativamente a ambas as perguntas.

Um rabino é um exemplo de uma opção religiosa que a maioria dos membros desta comunidade respeita (nele) mas nem sequer está interessada em seguir pessoalmente. O “trabalho de campo”, na sinagoga e fora dela, não só não correspondeu ao perfil de nenhum dos rabinos que tivemos, como não vai, provavelmente, corresponder ao dos que se seguirem. No fundo nós, os potenciais “consumidores”, já identificamos a necessidade, mas recusamos comprar o “produto final”, se este não for fabricado à medida dessa necessidade. É preciso alguém que saiba falar não só à razão mas também ao coração dos “consumidores”, aproximando-se do seu nível e tornando assim a “oferta” suficientemente apelativa e atractiva. Refiro-me a um profissional comunitário, activo e religioso, muito didacta, e que “trabalhe” com a Direcção eleita e com os seus executivos com o objectivo de abrir essas portas cada vez mais seladas e, paulatinamente, ir oferecendo mais “produtos adequados” e assim ir criando mais “necessidades”. Obviamente, capaz também de conduzir serviços e rituais religiosos como os conduziram os srs. Avraham Assor (mesmo antes de ser rabino) e Isaac Toledano z”l. Se de mim dependesse, procuraria um jovem educador “trintão”, com “a escola do Bnéi Akiva” e de língua portuguesa ou espanhola. Mais não cabe aqui acrescentar, mas permitam que deixe à vossa prezada reflexão estes meus pensamentos.

Gabriel Steinhardt

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