Israel em foco

ALGUNS PARALELISMOS ECONÓMICOS

Por Gabriel Steinhardt

            

O homólogo israeliano de Manuela Ferreira Leite, Binyamin (“Bibi”) Nethanyahu, tem “voz grossa e máscula”, pertenceu a uma unidade de comandos do exército, já foi primeiro ministro e concorreu nas últimas eleições internas do Likud contra Ariel Sharon. Bibi não escondeu que teria preferido ser ministro dos negócios estrangeiros mas a sua incontrolável sede de poder (ou haverá outra explicação plausível?) fez com que aceitasse a sempre difícil pasta das finanças, um presente algo “envenenado” do primeiro-ministro, que o obriga a por em risco o que resta da sua popularidade.

A luta de Nethanyahu pela aprovação do seu plano de recuperação económica, que prevê um corte orçamental de 11,4 mil milhões de shekels (cerca de € 2,4 mil milhões), não vai ser fácil e mesmo antes da sua votação, já tiveram de ser feitas algumas concessões. A questão da equiparação dos salários dos polícias com os das carreiras militares e a redução da participação do estado nas propinas universitárias foram mesmo eliminadas da ordem do dia. Do mesmo modo, os aumentos das taxas municipais serão inferiores aos previstos inicialmente. Mas, mesmo assim, a Histadrut, a principal federação sindical israeliana, já declarou abertamente a sua oposição ao orçamento que será apresentado neste mês de Abril (que inclui reduções salariais e despedimentos na casa dos 10% no funcionalismo público) e ameaça, junto com os outros sindicatos, convidar os seus associados para uma greve geral.

Num país onde os problemas de “segurança” atingem uma enorme e imediata relevância, os problemas económicos são por vezes colocados em segundo plano. A acalmia aparente nos mercados cambial e bolsista, assim como a eventualidade de uma ajuda económica importante dos Estados Unidos são também responsáveis pelo facto de vastos sectores do público não darem a devida importância à gravidade do problema.

No entanto, tal como em Portugal, o fosso que se vem cavando desde há aproximadamente dois anos, tende a transformar-se rapidamente num abismo intransponível, num país em que o deficit anual galopante atingiu € 6,2 mil milhões, que correspondem a 6% do PIB. Na origem do problema e afectando directamente o mau desempenho económico do país está, na opinião dos especialistas, o dimensionamento exagerado do sector público e das empresas comparticipadas pelo estado. Este sector, pesando consideravelmente mais no “bolo” do que o sector privado, acaba por asfixia-lo, impondo orçamentos gigantescos com diminuição de incentivos e créditos bonificados, aumentos das taxas de juro, agravamentos fiscais, etc. A “factura da crise” tem pois vindo a ser paga principalmente pelo sector privado (com os consequentes despedimentos, cortes salariais e muitas falências), enquanto o sector público continua a crescer, pese embora os seus trabalhadores tenham sofrido uma muito ligeira “erosão” salarial. Neste aspecto, não há também dúvida de que existe alguma semelhança com a situação que se vive actualmente aqui.

Uma grande parte da população de Israel vive hoje com dificuldades económicas e é importante entender que se este processo de deterioração económica não for travado, o país poderá entrar numa crise de consequência imprevisíveis – aceleração da inflação, subida dos impostos e das taxas de juros, mais despedimentos, falências e uma profunda recessão económica. Há quem diga que essa será a maior brecha que os inimigos de Israel jamais poderão abrir na sua muralha – a primeira grande vitória de Arafat.

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