Aconteceu no Mundo
A Líbia e a Síria e os Direitos Humanos
A Comissão dos Direitos Humanos da ONU acaba de votar uma resolução sobre a
eliminação de todas formas de intolerância religiosa, por 51 votos a favor e
duas abstenções. As duas abstenções são da Líbia (que preside à Comissão dos
Direitos Humanos!) e da Siria...
Um pacto implícito entre o Vaticano e o regime nazi
Segundo divulgou a revista alemã Der Spiegel, documentos inéditos encontrados
nos arquivos do Vaticano, recentemente abertos, revelam a existência de um pacto
de não agressão entre a Santa Sé e a Alemanha nazi. Desde Março de 1933, Eugénio
Pacelli, o futuro Papa Pio XII tinha incitado os bispos alemães a não criticarem
mais o novo regime de Adolf Hitler: “enquanto Hitler não declarar guerra à Santa
Sé e aos dignitários católicos na Alemanha, não devemos condenar o partido de
Hitler”. Esta era a política oficial do Vaticano, apesar de desde 1935, o
embaixador da Santa Sé na Alemanha, Cesario Orsenigo, ter profetizado que “os
judeus estavam predestinados a desaparecer do país.”
“Veni, Vidi, Vici”
O jornal francês l’Express revelou a existência de uma campanha estratégica
de implantação islâmica radical a todos os níveis de poder da sociedade francesa
e nomeadamente nas universidades, por parte de organizações muçulmanas tais como
os Estudantes Muçulmanos de França ou a União das Organizações Islâmicas de
França. Essa estratégia ultra-secreta destinada aos quadros das referidas
organizações, encontra-se dissimulada num CDRom pirata do disco de Carla Bruni,
ao qual o l’Express teve acesso. A islamização radical, o endoutrinamento
precoce de jovens, a oposição a toda e qualquer política de integração, a
denúncia da “laicidade discriminatória” do Estado francês, agudizando as
“contradições” da sua política (por exemplo, porque razão permitir a Kipá quando
se proíbe o véu nas escolas....) são alguns dos meios para cumprir com sucesso o
programa cujo nome de código é sugestivamente: Veni, vidi, vici.”
Salima, a última judia de Basora
O arcebispo católico cuida da única sobrevivente da mais antiga diáspora
judaica.
PLÀCIDGARCIA-PLANAS - 20/04/2003
Enviado especial
A porta parece de outro mundo. O Arcebispo Gabriel, sotaina negra debruada a
púrpura, bate com o punho: “Salima! Salima!” . As portas levam o seu tempo, mas
acabam por se abrir, como uma penúltima respiração: de trás sai uma mulher
baixinha, com dificuldade de andar. Doce e torturada. É Salima, uma dos últimos
39 judeus que restam no Iraque. Uma dos últimos descendentes dos judeus
condenados por Nabucodonosor a exilar-se na terra dos dois rios no ano de 597
antes de Cristo.
Há 50 anos havia no Iraque centenas de milhares de judeus. Hoje restam 38 em
Bagdad e só uma em Basora. Já não restam judeus em Mosul, nem em Amara nem em
Hilla. E a maioria dos que vivem em Bagdad são anciãos. O último casamento
celebrou-se em 1980. O último rabino morreu em 1996. Não há jovens para a Bar
Mitzvá. Na Babilónia nasceu a ideia da diáspora e, exactamente 2.600 anos
depois, ela morre na Babilónia.
Salima abre as portas do palácio que já não é um palácio: ela sobrevive num
canto de um pátio com um pórtico antigo onde as colunas de madeira talhada caiem
aos pedaços e onde alguns muros vieram abaixo. Salima senta-se na sua pobre
cama, debaixo de um grande ventilador, e e o Arcebispo caldeu católico
oferece-lhe um saco de laranjas. Salima queixa-se das costas, indaga a sua
memória e não se lembra de qual foi o último judeu que viu em vida, se foi a sua
mãe ou o seu primo Yacob. Isso, comenta, ocorreu na época em que Saddam chegou
ao poder.
Os seus pais eram de Bagdad, mas ela nasceu em Basora, em 1924. Dizem que era
muito bonita, e ela olha-se ao espelho da felicidade: “Havia tantos judeus,
tantas sinagogas...”. Tudo se fundiu nos anos. Entre 1950 e 1951, o
antisemitismo dos governos
iraquianos e a sistemática campanha sionista para ir para Israel foram
fulminantes. Secaram três mil anos de judaísmo entre o Tigre e o Eufrates.
Salima mal teve tempo para ser feliz. Foi feliz muito jovem, nos anos trinta e
quarenta, quando ouvia as populares bandas musicais judaicas da Rádio Bagdad,
quando estudava na Aliança Francesa, quando em sua casa não faltava nada. O pai
importava e exportava. Porque os judeus do Iraque, os fundadores da diáspora,
estenderam as suas próprias diásporas: houve florescentes comunidades hebraicas
iraquianas em Calcutá, Bombaim, Londres, Nova York, Jerusalém, Rangum, Shanghai
ou Hong Kong. Uns 250.000 descendentes de judeus iraquianos vivem hoje em Israel
e por todo o mundo, entre os quais a família Satchi, o império da publicidade.
Ela, Salima, não teve tempo de ser feliz. Casou-se e o seu marido morreu ao cabo
de poucos anos. Nos seus 79 anos de vida só saíu uma vez de Basora: um par de
dias em Bagdad para arranjar uns papéis. Há muitos anos que não pode falar com
ninguém no dialecto árabe dos judeus iraquianos: esse dialecto agoniza nos seus
pensamentos. Todo o mármore do cemitério judeu foi vandalizado. O seu mundo
desmoronou-se. Há três semanas quase se esqueceu de Purim, o carnaval judeu, e
tenta –só resta ela para o fazer – pensar no dia do Milagre que se comemora cada
ano: os judeus de Basora celebravam um segundo Purim, uns dias depois, para
agradecer o dia em que D'us os salvou da espada de un vizir persa.
Salima vive da ajuda dos caldeus católicos. Levam-na ao médico e levam-lhe
alimentos, carne só frango para que ela, desconfiada, possa ter a certeza que
não é porco o que come.
Os canais da velha Basora trazem água putrefacta. Nada nos diz hoje que foi
entre estes dois rios onde, junto com Israel, nasceu a civilização judaica. Que
foi aqui onde o rei Yehoikan levantou a primeira sinagoga, aqui onde os judeus
adoptaram os caracteres da sua escrita actual e aqui onde se escreveu o Talmud
de Babilónia, ainda predominante na lei judaica. Nada nos afirma todo este
passado. Só Salima, que também diz que se quer ir embora. Não apenas deste
palácio em ruínas, mas simplesmente do palácio.
Já não pode escutar as bandas de fox-trot na Rádio Bagdad. Já não há Aliança
Francesa. Já não há delegações comerciais em Calcutá e Hong Kong. Já não há
mármore no cemitério judaico, nem ninguém para celebrar o dia do Milagre. A
última escrava de Nabucodonosor, a última judia bíblica de Basora, espera na
Babilónia a sua definitiva libertação.
La Vanguardia digital