Cartas dos Leitores
Ex.mo. Conselho Editorial
Do Boletim Tikvá da CIL.
Restauro do Cemitério Judaico da Estrela
Reporto-me ao artigo inserido no Nª 32 do Boletim Tikvá sob titulo supra,
subscrito pela nossa prezada correligionária Esther Mucznik, por quem tenho a
maior estima e mais alta consideração. Respeito o seu ponto de vista. Todos tem
o direito de exprimir o seu pensamento, mas...é antagónico ao meu.
Fui um dos opositores da limpesa do Cemitério por elementos de outra Religião a
custo zero. Não tanto pela religião mas, sim, moral. Confesso que não sou
religioso, raramente frequento a Sinagoga mesmo nos dias festivos, porém, vou
sempre quando sou solicitado para assegurar a “minhan” quando alguém tem “Nahala”.
Faço-o de boa vontade por respeito e consideração pelo próximo, como também o
faço no “Hevrá”. Considero-me pessoa tolerante, humanista, não descrimino
ninguém, não sou racista, não tenho relutância de ir a outros Templos para
assistir a casamentos ou baptisados de outras religiões, tenho amigos de
diversas raças e credos, mas... tudo tem limites.
A razão da minha oposição baseia-se no facto de “ainda” ser da geração anterior
a da pós-guerra. Vivi dezasseis anos num país onde grassava anti-semitismo que
me deixou tristes memórias. Não esqueço os espancamentos de judeus por... nada,
as vezes por prazer ou paródia. Recordo as frases ouvidas constantemente – Judeu
! vias para a Palestina acutalmento o slogan é - sai da Palestina), recordo as
perseguições aos Judeus, os pogroms e outras barbaridades.
Posteriormente vivi a II guerra (felizmente não fisicamente). Passava horas
agarrado á telefonia a ouvir os relatos do holocausto, do genocídio dos Judeus
com consentimento de outras religiões. Digo consentimento porque ninguém deu um
passo para tentar salvar alguns Judeus que fosse. Os lideres espirituais não
abriram a boca em favor dos Judeus. Muitos Judeus podiam ter sido salvos com a
intervenção deles, e entre esses, talvez, algum meu familiar.
Será que se consultado, o conselho Rabinico teria consentido esta limpesa? –
Duvido. Será, de facto, que o nosso inesquecível Samito consentiria? Também
duvido. Tenho também a certeza que ninguém consentiria a lavagem dos corpos dos
falecidos por não Judeus, mesmo a custo zero. Então porque tocar nas campas?.
È certo que recorremos a mãos não Judias para executar trabalhos no Cemitério,
mas é um mal necessário, porque não temos Judeus que o façam e estes trabalhos
não são por favor – são pagos.
Estou convencido que os nossos jovens (e não só) se fossem para isso
solicitados, de bom grado executariam a limpesa das campas e do Cemitério.
Quanto a reparação e pintura dos muros também se encontraria solução com o
mínimo de cutos e não era necessário recorrer a favores. Esta é a minha opinião.
Com os meus cumprimentos.
Miguel Bekerman
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