Rostos da CIL

Entrevista com Ester Golan

Esta senhora é uma sobrevivente do Holocausto que saiu da Alemanha em 1938 num transporte de crianças para Inglaterra. Os seus pais pereceram em Theresinstadt e Auschwitz. A avó materna salvou-se, indo viver para a cidade do Porto com o filho, que lá se tinha estabelecido em 1933 e onde vivem as suas filhas.

Esther Golan foi viver para Israel em 1945, viveu de perto todas as guerras sofridas pelo Estado de Israel, passou a dar conferências sobre a Shoah no Museu Yad Vashem em Jerusalém e sobretudo na Alemanha, onde publicou um livro sobre a sua família. Em 2001, quando conferenciava no Yad Vashem em Yom Hashoa sobre o Holocausto, recebeu um telefonema informando-a da morte do neto, membro do Tzahal, em Jenin.

Qual a sua relação com Portugal?
Durante o período de 1940-1941 houve um Sheliah de Israel – Fritz Liechtenstein – que tinha contactos com refugiados judeus em Portugal, tentando que estes fizessem Alyah para a Palestina e que me pôs em contacto com alguns Judeus.

Sendo Portugal um país neutral, podia haver troca de correspondência com a Alemanha tal como com o resto do mundo. Assim, até 1942 pude receber cartas de Berlim via Portugal. O meu tio Emil Oppenheim enviava igualmente sardinhas para Berlim e para Theresinstadt - onde faleceu o meu pai.

Quando chegaram os seus familiares a Portugal e como era a sua vida no Porto?
Emil Oppenheim, irmão da minha mãe e a tia Elli, foram viver para a cidade do Porto em 1933 com as suas filhas Hella e Mariana. A sua vida era difícil, tinham um pequeno negócio que mal lhes dava para viver. Nem sequer tinham uma vida judaica e as minhas primas foram até para uma escola católica.


Conte-nos um pouco da história do seu tio.
O meu tio Emil era advogado e notário na Alemanha. Viveu na Silésia e após o casamento foi para WeibWosser. Pertencia ao Partido Social-Democrata e em 1933, quando Hitler chegou ao poder, foi enviado para um campo de concentração como prisioneiro.

Ele tinha alguns contactos em Portugal e tentou emigrar com a sua família, na medida em que não era comunista e, assim, tinha o direito de emigrar como político. As suas filhas mais tarde foram baptizadas e Hella, foi, inclusive, para um convento. Ele, a minha tia e a minha avó morreram no Porto, foram enterrados num cemitério católico, mas o seu enterro tentou seguir as regras judaicas o melhor possível. Ainda conservo algumas cartas que trocámos.

Como se salvou do Holocausto?
Em 1937, a minha família mudou-se para Berlim de forma a tentar emigrar. O meu irmão mais velho conseguiu ir para a Palestina como jovem, mas eu era muito nova. Em desespero, os meus pais tentaram que fosse adoptada por alguma família americana. Mas a Jewish Agency, ao ver a minha fotografia, exclamou “uma rapariga tão feia, ninguém a vai querer”. Mas por fim a minha mãe conseguiu com que fosse no Kinder Transport, e assim fui para Inglaterra.

Como foi a sua vinda em Israel ?
Vim para a Palestina em 1945. Tinha estado em Londres, onde casei pela primeira vez, com 18 anos, num campo de refugiados para crianças judias.

Já vive há 58 anos em Israel, como passou todas as vicissitudes ao longo deste tempo?
Em 1948, quando obtivemos a independência não a pudemos celebrar porque entrámos imediatamente em guerra, perdendo 6 mil homens. Para aqueles que tinham sobrevivido ao Holocausto, foi uma grande tragédia. Juntei-me ao Palmach e lutei com Givati. Depois disso, estudei educação infantil, e alistei-me num campo de refugiados Yemenitas, onde era responsável pelas crianças.

Há dois anos fundei uma associação "Points Along the Way", de forma a poder gravar as histórias dos primeiros colonos Israelitas, especialmente os alemães. Eu gosto de gravar, especialmente, as histórias das pessoas comuns, sobretudo dos primeiros que vieram para Israel, em que ainda há tanta coisa por contar.

Hoje tem um site na internet, qual é o seu segredo de vida?
O meu maior prazer é acordar de manhã e apertar o botão do computador. Escrevo os meus próprios livros. Enquanto for criativa, sei que estou viva.
O mail de Ester Golan é golanes@netvision.net.il
Site: www.geocities.com/ester_golan/

Entrevista conduzida em Israel por Nuno W. Martins

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