PROF. DR. MOSES BENSABAT AMZALAK Z´L
Da Esq. para Direita:
Moses B. Amzalak, Orovida Sequerra Amzalak,
Helena Amzalak Levy e Abrahão Levy.
“... aqueles cujas boas obras excedem a
sua ciência, mantêm a sua ciência; mas se a sua ciência é superior às suas
virtudes, aquela não se manterá” *
Em 6 de Junho de de 1978, ou seja há 25 anos, faleceu com 86 anos, este
ilustre membro da Comunidade Israelita de Lisboa. Foi membro do Comité desde
1916 e seu Presidente desde 1927 até à sua morte em 1978. Este longo mandato
explica-se pelo facto de se tratar de uma personalidade que se destacou,
extraordinariamente, na vida pública portuguesa e mundial nos planos
académico, científico, judaico e diplomático. Além disso terá sido uma
reflexo, na vida da nossa Comunidade, do que se passou na vida política de
Portugal em que Salazar permaneceu no poder cerca de 40 anos.
Da vida académica de Moses Amzalak, destacamos o seu lugar de professor e
director do antigo Instituto Superior de Comércio, mais tarde Instituto
Superior de Ciências Económicas e Financeiras, hoje Instituto Superior de
Economia e Gestão. Foi vice-reitor da Universidade Técnica de Lisboa (que
abrangia o ISCEF, o I.S.Técnico, o I.S. Agronomia e a Esc. Sup. de Medicina
Veterinária) por 2 vezes – de 1931-34 e de 1944-1956 e Reitor de 1956 a 1962,
tendo sido director do ISCEF de 1933-44.
Foi distinguido com o doutoramento honoris-causa em 12 universidades, entre as
quais Estrasburgo, Caen, Paris, Bordéus, Lyon, Toulouse, Argel, Poitiers, de
Aix-Marselha, tendo proferido conferências em numerosas universidades como a
de Jerusalém, Oxford e muitas outras.
Foi sócio efectivo da prestigiada Academia das Ciências de Lisboa, presidente
da sua classe de Letras e, mais tarde, presidente da própria Academia.
Foi membro e presidente dos juris de doutoramentos e para professor
catedrático da Universidade Técnica de Lisboa, por onde passaram muitos
eminentes professores. Fazia parte, também dos júris de concursos no
Ministério dos Negócios Estrangeiros, conhecendo assim os vários diplomatas
que acederam aos diversos postos daquela diplomacia.
Publicou mais de 300 títulos, abrangendo assuntos de natureza comercial,
história económica (portuguesa e brasileira) e economia, história
judaico-portuguesa (biografias de Isaac Oróbio de Castro, Selomoh de Oliveyra,
David Nieto, Jahakob Pereyra, Abraham Pharar, Moisés Altaras, etc), notas
sobre as Azaharot, Ciclo Solar e uma tradução para português do Pirkê Avot – A
Ética dos Pais.
Como Presidente da Comunidade teve um papel relevante no apoio à Comunidade
Israelita do Porto e ao Capitão Barros Basto então alvo de perseguições e
durante a a 2ª Guerra Mundial conseguindo que as organizações de apoio aos
refugiados (a Jewish American Joint e a HICEM – Hias Ica Emmigration) se
instalassem em Portugal e funcionassem com a maior eficiência em colaboração
com a CIL. O assunto que, politicamente, era muito sensível conseguiu
resolver-se graças à acção de Amzalak e da muita consideração que Salazar
tinha por ele.
Amzalak desennvolveu uma vida empresarial como administrador do jornal O
Século, da Sacor e como membro da Direcção da então importante Associação
Comercial de Lisboa. Foi procurador à Câmara Corporativa.
Era pessoa de fino trato, de grande cultura, bom diplomata e extremamente
empenhado na vida da Comunidade Israelita de Lisboa, uma tradição que já vinha
de seu pai Leão Amzalak.
Foi parnás da Sinagoga e sempre conseguiu manter uma elevada dignidade na
manutenção das tradições religiosas judaicas . Estava muito bem relacionado
com meios judaicos, sefaradim, em particular e com meios académicos judaicos
em especial na Universidade Jerusalem. Cecil Roth visitava-o regularmente.
Lembro-me de o Prof Amzalak me ter pedido para servir de cicerone ao Professor
Yahuda e ao Prof. Mannes da Universidade de Jerusalem para conhecerem Lisboa
Estava casado com D. Orovida Sequerra Amzalak, neta de Abraham E. Levy que
presidiu à cerimónia da 1ª pedra da Sinagoga, e que lhe deu um extraordinário
apoio. No Comité, o Dr. Elias Baruel e o Dr. Semtob D. Sequerra que tinham por
ele uma admiração ilimitada, formaram, com ele, uma equipa muito solidária
(recordo-me de uma vez ter sugerido ao Dr. Baruel que se candidatasse a
Presidente para haver uma certa rotação de pessoas e ele rejeitou essa
hipótese com veemência).
Consideramos que a nossa Comunidade muito beneficiou dos seus conhecimentos,
da sua experiência, da sua influência na defesa dos nossos interesses e na
salvaguarda da vida judaica da nossa Comunidade (que já esteve e volta estar
ameaçada). Que ele nos tenha deixado o bom exemplo.
Samuel Levy
* Pirkê Avot - A Ética dos Pais , cap III, parágrafo 12 . Trad. de M. B.
Amzalak (1927)