Rostos da CIL

Entrevista com Rebeca Assor
conduzida por Diana Ettner

     

(clique nas fotografias para as ver em tamanho real)

P: Nasceu no Brasil, onde viveu até vir para Lisboa. Fale-nos um pouco da sua infância e do seu percurso até chegar a Portugal.
Eu nasci em Manicoré, no Rio Madeira, no dia 7 de Novembro de 1930, numa grande família. Éramos onze irmãos, oito raparigas e três rapazes.
A minha mãe faleceu quando eu tinha dois anos e desde então vivi com a minha tia Reina. A minha tia era casada com um judeu português, Salomão David Querub e, como não tinham filhos, acabaram por me criar como se fosse filha deles.
Entretanto, quando fiz dez anos, fomos para Porto Velho, onde o meu tio acabou por falecer. O destino seguinte foi Manaus, onde ficámos até partir para Lisboa.
Quando enviuvou, a minha tia decidiu que queria vir a Lisboa com dois objectivos: conhecer a família do seu marido que aí vivia, e oferecer um sefer à Sinagoga lisboeta, em homenagem do seu marido. Concretizou os dois objectivos.
Aliás, o pergaminho do Sefer que foi oferecido pela minha tia à Sinagoga, foi comprado nos leilões das casas dos refugiados em Lisboa. Na altura, só o rolo de pergaminho custou 10 contos!
A nossa ideia nunca foi ficar em Portugal. Mas a vida é assim mesmo e nunca mais daqui saímos...
Deixámos o Brasil no dia 20 de Maio de 1948 e no dia 11 de Junho desse ano atracámos em Lisboa. Eu tinha 17 anos quando aqui cheguei.

P: No Brasil, qual era a sua relação com a Comunidade Judaica?
A vida judaica em Manaus era muito boa, muita rica. As famílias que aí viviam eram quase todas oriundas de Marrocos e eu, que partilhava dessas origens, sentia-me em casa!
Foi lá que acabei por fazer toda a minha educação escolar, tendo saído de lá quando ia começar o 1º ano do Científico.

P: Como foi a chegada a Lisboa? A vida aqui era muito diferente?
Eu senti, na verdade, uma grande diferença e a minha vida mudou muito. Quando chegámos, tive que começar logo a trabalhar, o que me impediu de continuar os estudos. Acabei por não ter a juventude que queria ter tido e também por não me integrar mais na CIL.
De facto, quando cheguei, fui logo trabalhar para os Espira, três irmãos alemães que viviam em Lisboa. Tinham uma loja nas Escadinhas de Santa Justa e aí trabalhei durante algum tempo.
Depois, fui trabalhar para o escritório do Salomão Marques, onde gostei muito de estar.
A partir de 1981, comecei a trabalhar nas cozinhas da El Al e a providenciar comida kasher para os visitantes de Lisboa.
A minha mãe, entretanto, tinha voltado a casar com Jacob Querub, seu cunhado, que era então o Shamash da Sinagoga. O falecimento dela, uns anos depois, foi uma grande perda para mim.

P: Que recordações guarda da CIL desses tempos?
Eu tive que começar a trabalhar desde que cheguei e a verdade é que o trabalho ocupava a maior parte dos meus dias. Por isso não me integrei mais na CIL e não participei em muitas actividades.
Mas nunca me hei-de esquecer de uma festa a que fui, a inauguração do Centro Israelita de Lisboa. Foi uma festa linda, maravilhosa!


P: E como foi acompanhar a vida do Rabino Assor Z´L ?
Eu casei com 33 anos, no ano de 1963 e desde então acompanhei sempre o meu marido, em todas as ocasiões. Ele fazia supervisão da Kashrut para a União Ortodoxa, visitava fábricas em Lisboa e eu acompanhava-o sempre. Foi uma vida muito unida, a de nós os dois. Ele não decidia nada sem pedir a minha opinião.
Sinto uma grande falta dele. Tivémos dois filhos, o Issac que nasceu em 1965 e a Miriam, que nasceu em 1966 e hoje tenho também três netas, filhas do Isaac e de sua mulher, Manuela - a Reina, de onze anos, a Sara, de oito e a Leonor, de 3 anos. Todos os Sábados vêm a minha casa, passam comigo todas as festas e eu tento ir a casa delas todos os fins do dia.

P: Como sente a vida da CIL nos dias de hoje?
Eu acho que as coisas estão a melhorar. Para mim, uma iniciativa muito boa foi a do Guil Hazaav, o coro dos mais idosos... Tem sido um verdadeiro escape na minha vida, uma forma de estar com pessoas que são minhas amigas e que eu já não via há muito tempo. Aquelas horas semanais ali são dos melhores momentos da semana!
Acho que o Marcos tem conduzido muito bem essa iniciativa. Sempre que nos dá uma canção nova para ensaiar, traduz-nos a letra e ela tem sempre um conteúdo ligado à fé, um louvor a D’us.
Acho que ele tem feito, em geral, um bom trabalho em Lisboa. Sinto as pessoas mais unidas, mais interessadas, mais participativas nas actividades comunitárias. E o objectivo dele é incorporar as pessoas, fazê-las mais felizes.
Acha que só nos falta agora encontrar um Rabino com o perfil adequado para a nossa Comunidade e que assegure os serviços religiosos.
Por isso, acho que a CIL está no bom caminho!

P: Está também envolvida no Somej Nophlim.
Sim, e acho que foi muito importante o renascer desta iniciativa. O nosso objectivo é, antes de mais, ver quem são as pessoas necessitadas e, depois, desenvolver projectos para angariar mais sócios, sobretudo jovens e adultos.
Aliás, eu ainda me lembro dos tempos da Cozinha Económica, iniciativa liderada pela Dona Sara Zagury. Funcionava ligada ao Hospital Israelita e o objectivo era fornecer alimentação para os mais necessitados que aí iam almoçar. Lembro-me que para aqueles que não podiam andar, levava-se a comida a casa.

P: Tem alguma mensagem a deixar aos membros da CIL?
Que D’us nos proteja a todos e nos traga tudo de bom. E que cada vez haja mais prosperidade e união na nossa Comunidade!

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