Israel em foco
UM “ROAD MAP” PARA OS RABINOS DE ISRAEL
Na última edição do Tikvá (Junho 2003), esta nossa coluna, em que se comentou
o famoso “Road Map” (roteiro), partilhou a página com uma pequena notícia sobre
a eleição, em Abril, dos novos Grão Rabinos de Israel. Curiosamente, muito se
tem falado em Israel sobre a necessidade de uma maior separação entre o estado
(secular) e a religião (judaica) e, ultimamente, também sobre a necessidade de
se criar um novo “roteiro” para o rabinato e para os rabinos deste país. Esta
analogia faz sentido na medida em que o roteiro se apresenta como uma proposta
de solução para um problema que se vem arrastando há vários anos e cuja solução
é deveras complicada, como é o caso do conflito israelo-palestiniano, por um
lado, e das tensões internas na sociedade israeliana em torno do tema da
religião, por outro.
As eleições do Grão Rabino sefaradi, Shlomo Amar (ex-Grão Rabino de Telavive,
identificado com o partido ultra-ortodoxo Shas) e do Grão Rabino ashkenazi Yona
Metzger foram, na verdade, tristemente polémicas. De salientar que sobre este
último, segundo o Haaretz e o Maariv já penderam graves acusações que inclusive
puseram em causa, em 1998, a sua candidatura a Grão Rabino de Telavive e mesmo a
sua “licença” para exercer o rabinato. Várias testemunhas alegam que o novo Grão
Rabino molestou sexualmente homens de diversas idades, falsificou assinaturas em
ketubot e recebeu (e regateou!) dinheiro por cerimónias de casamento que
realizou. O Haaretz considera que estas acusações nunca foram completamente
esclarecidas mas, junto com severas críticas à sua ética emitidas pelo ex-Grão
Rabino Bashki-Doron e pelo próprio Shlomo Amar, chegou-se a um “acordo político”
que permitiu esta eleição.
Deste modo, mercê da ampla contestação dos mais variados sectores religiosos
e laicos da população, entre os que o criticam e os que simplesmente o ignoram,
o Grão Rabinato de Israel perdeu a sua relevância como grande autoridade
representante do Judaísmo e tornou-se parte do aparelho do estado – um
departamento político, técnico e burocrático com as responsabilidades que a
legislação israeliana lhe prevê, ou seja: os tribunais rabínicos, a supervisão
do cashrut, as conversões, os casamentos e os divórcios e pouco mais. Também nas
comunidades de Israel se esgotou, aparentemente, o modelo do rabino que apenas
se ocupa destes temas, complementando-os com alguns sermões ocasionais, a
resposta a questões específicas que lhe são colocadas e as aulas de Halacha de
Shabbat, “intangíveis” para a maioria da congregação.
O conhecimento profundo das leis judaicas, ensinado nas Yeshivot , é sem
dúvida uma condição sine qua non para se ser rabino. Mas não é suficiente para o
transformar num bom rabino. O modelo escolhido pelas comunidades da Diáspora,
principalmente nos E.U.A. (mas não só!) tem provado ser bastante mais eficaz:
rabinos que “vivem” não só na sinagoga mas também fora dela; rabinos que sabem e
querem comunicar com as congregações – que sabem escrever e falar bem, com
afecto e com paixão, sensíveis e abertos a ouvir, e conseguem compreender e
ajudar todos os tipos de judeus. O próprio “sermão da praxe”, por vezes tão
ridicularizado, pode ganhar importância se ultrapassar a mera interpretação do
versículo bíblico e se transformar numa visão inspiradora e confortante de
princípios judaicos e humanos relevantes para a sociedade moderna. Quanto à
sinagoga, deve deixar de ser percebida como um local de reunião de um minian que
quer rezar as suas orações. Sob a liderança espiritual adequada, ela deve ser
uma instituição com sua própria personalidade, integrar-se, servir e unir a
comunidade, dando-lhe apoio e conforto em momentos de alegria e tristeza.
Este novo “roteiro” para os rabinos de Israel é uma sugestão que exige,
claramente, menos ideologia e mais “know-how” e abre as portas para um novo
modelo profissional, menos “oficial” mas provavelmente também menos
contraditório e mais eficaz. Merece, no mínimo, alguma reflexão.
GABRIEL STEINHARDT
Novos Rabinos – Chefe em Israel
Em Abril, foram eleitos rabinos.chefe de Israel, o Rabino Ashkenazi Yona
Metzger e o Rabino Sefardi Shlomo Amar. O 1º era o Rabino do norte de Tel-Aviv e
o 2º era o Rabino-chefe de Tel-Aviv.
Rabino Ashkenazi Yona Metzger
Rabino Sefardi Shlomo Amar