Aconteceu no Mundo

AMIA – 9 Anos do Atentado

Comunidades do mundo solidarizam-se com as vítimas

Lisboa, 18 de Julho de 2003

Hoje, no dia em que a Comunidade Judaica de Buenos Aires recorda os seus entes queridos assassinados e feridos naquele terrível ataque de há nove anos, gostaríamos de expressar o nosso mais profundo sentimento de solidariedade com uma mensagem de amizade da Comunidade Judaica de Portugal.

Esperamos e acreditamos que este tipo de actos imperdoáveis deixe de acontecer no mundo.

Neste dia, pedimos aos responsáveis pela comunidade internacional para envidarem todos os esforços possíveis no sentido de pôr um fim a este flagelo de uma vez por todas; para prosseguir na guerra contra o terrorismo com coragem e persistência porque o terrorismo não conhece nem respeita leis, fronteiras, raças ou religiões. Esperamos que em cada país do mundo, as organizações terroristas sejam proibidas e os seus apoiantes interditados e banidos.

Neste dia, todos nós devemos dar as nossas mãos aos nossos irmãos na Argentina e em outras Comunidade Judaicas no mundo com um voto de Paz e Compreensão.

José Oulman Carp
Presidente

Chore por nós, Argentina!

OSIAS WURMAN

Sábio o ensinamento judaico que recomenda aos seres humanos a oração para que nunca tenham que sofrer tudo o que estão habilitados a suportar.
O exemplo prático destas palavras é vivido pelos parentes das vítimas do mais horrível atentado contra civis da história na Argentina: a explosão da Associação Mutual Israelita Argentina (Amia) em Julho de 1994, que matou 85 argentinos de origem judia e feriu cerca de 300, muitos não judeus. Após a explosão, provocada por um motorista suicida que lançou a sua camionete cheia de explosivos contra o edifício situado na Rua Pasteur, o prédio da instituição israelita ruiu. Decorridos nove anos da tragédia, os parentes ainda clamam por justiça para que possam considerar sepultados os seus mortos. Hoje, sabe-se que esta investida foi parte de uma trama internacional antijudaica que contou com a participação ou apoio logístico de membros da embaixada iraniana em Buenos Aires e integrantes do grupo radical Hezbollah, sediado no Líbano, que teria enviado o suicida. Também membros da Side, a Secretaria de Inteligência do Estado, estiveram envolvidos no encobrimento do grupo terrorista e até hoje encontram-se protegidos pela lei que os proíbe de depor, sob a alegação de proteger segredos de Estado. Na verdade, estão protegendo uma vergonhosa impunidade, que deveria ter sido derrubada junto com a ditadura argentina, nos idos de 1983. A motivação para esse abominável acto de cobardia e terror foi um misto de indiferença e conivência por omissão das autoridades a outro atentado realizado pelos mesmos mentores, em l992, contra a embaixada de Israel em Buenos Aires, em que foram mortas 29 pessoas e 252 ficaram feridas. Também nesse caso, nenhum culpado foi sentenciado até hoje. Debita-se este estado de conivência oficial a vários governantes, com destaque para o ex-presidente Carlos Menem, um ferrenho peronista que manteve os deploráveis hábitos anti-semitas de seu ídolo populista. Nos idos dos anos 40, a mulher do ditador Juan Pablo Perón, Evita, foi intermediária na compra de 30 mil passaportes falsos que serviram para a fuga de criminosos de guerra nazistas, sendo 20 mil para a Argentina e o restante para o Chile. Em troca deste “serviço”, o ditador e sua mulher teriam recebido US$ 200 milhões depositados em bancos suíços pela organização Odessa, criada para proteger os carrascos nazistas após a derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial. Vale lembrar os inúmeros sinais da presença nazi na Argentina desde maio de 1960, quando Adolph Eichmann, o responsável pela agilização do transporte de judeus de todos os países ocupados pelos nazis na Europa para os campos de concentração, foi sequestrado da Argentina por agentes israelenses e julgado com a pena de morte em Jerusalém, até recentemente, quando em l994 foi descoberto Erich Priebke, aos 82 anos de idade e gozando de prestígio na cidade paradisíaca de Bariloche, participante do massacre nazi na Itália conhecido como “Fossas Ardeatinas”, quando foram mortos 335 homens e meninos nas cavernas próximas da Via Appia, em Roma, para vingar a morte de 33 nazis num atentado da resistência italiana. Conhecido o seu paradeiro, foi extraditado para a Itália a pedido do governo. Os judeus argentinos somavam 500 mil pessoas há duas décadas. Atualmente são menos de 250 mil, que resistem ao clima de preconceito e indiferença dos governantes. Enquanto aguardamos que se faça justiça nos dois atentados na Argentina, ouvimos no nosso imaginário o brado das 114 vítimas inocentes que clamam dos céus: Chore por nós, Argentina!

OSIAS WURMAN é Presidente da Federação Israelita do Rio de Janeiro.

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