Tikvá n.º 43, 5º ano
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2 TIKVÁ, Março 2004
FICHA TÉCNICA: Director Responsável: Esther Mucznik Director da Redacção:
Marcos Prist Conselho Editorial: Nuno Martins e Diana Ettner Coordenação
Gráfica: Mara Kusminsky Impressão: Eurotom, Lda.
Os textos assinados são da responsabilidade dos seus autores
2 Editorial / Mensagem da Direcção
3 Centenário Sinagoga Shaaré Tikvá
4/5/6 Rostos da CIL / Aviso Pessach
7 Espaço Aberto
8/9 Homenagem Dor Chadash
10/11 As Nossas Actividades
12/13/14/15/16 Aconteceu na CIL
17 Momento de Reflexão
18/19 Israel em Foco
20/21 Em Abril / A CIL na TV
22/23 Contando a Nossa História
24 E dizia o Rabino ...
25 As Nossas Sugestões
26 Homenagens / Nahalot
mensagem da direcção
editorial índice
Como é do conhecimento de todos, celebramos este ano o
Centenário da nossa Sinagoga. Cem anos durante os quais os nos-sos
pais e avós, e antes deles todos os que aqui chegaram ao longo
do século XIX, foram desafiando todas as dificuldades e construin-do
os alicerces do edifício comunitário.
Talvez o maior desafio tenha sido a construção da nossa Sinagoga
Shaaré Tikvá, fruto do sonho e da visão audaciosa de um punhado
de homens e mulheres que não se contentaram com os pequenos
centros de oração que já existiam e resolveram olhar para o futu-ro
com um olhar mais vasto.
A comunidade era pequena, com poucos meios. Não faltaram, por
isso, críticas à “mania das grandezas”. E, no entanto, esses homens
e mulheres não hesitaram em deitar mãos à obra e conseguiram,
apesar de todas as dificuldades, realizar o seu sonho.
As gerações presentes já herdaram a nossa bela sinagoga. Fez-se
obras de fundo em 1949 e agora, passados 50 anos, estamos de
novo a restaurá-la, porque é nossa obrigação cuidar do património
legado pelos nossos antepassados.
Mas estas obras não são apenas um tributo à memória dos funda-dores.
São acima de tudo uma forma de contribuir para que a
Sinagoga seja de facto o centro espiritual da comunidade, a sua
casa comum, o espaço de encontro e de convívio, de estudo e ora-ção
para novos e velhos, homens e mulheres, o espaço de uma
comunidade viva e dinâmica.
Temos feito um enorme esforço para angariar os fundos necessári-os.
Mas ainda nos falta uma verba importante para chegar ao fim.
Neste número divulgamos os principais sectores da obra para que
possa escolher o destino do seu contributo. Mas seja ele qual for,
não deixe de o fazer: lembre-se que esta é a única vez na sua vida
que pode contribuir para o Centenário da sua Sinagoga.
Esther Mucznik
Vice-Presidente da CIL
Um Tikvá com muito pra
contar !
Com certeza a próxima celebração de
Pessach na CIL já seria assunto suficiente
para mais esta edição do nosso Boletim
Tikvá. Porém, penso que esta acabará por
ser uma pré-edição especial que antece-derá
a de facto grande e histórica EDIÇÃO
ESPECIAL a ser distribuída no próximo
mês de Maio por ocasião das comemora-ções
do Centenário da nossa Sinagoga.
Mas o facto é que, por mais especial que
venha a ser a edição de Maio pela gran-deza
do seu tema, esta edição do nº 43
que acabam de receber não deve
deixar nada a desejar. A belíssima e ale-gre
comemoração de Purim na CIL, o 2º
aniversário do nosso querido Movimento
Juvenil Dor Chadash e outros muitos
assuntos e momentos marcantes, são
apenas alguns de entre as suas várias
atracções.
O Boletim Tikvá tem estado a empenhar--
se no intuito de tentar acompanhar o
alucinante ritmo com os projectos e acti-vidades
da CIL têm estado a transcor-rer
e concerteza reserva ainda grandes
momentos que estão por vir. Entretanto,
não poderíamos deixar de registar com
profunda tristeza e pesar, o trágico e
covarde atentado em Madrid ocorrido
infelizmente no dia em que encerráva-mos
esta edição e mais precisamente,
quando estava eu a escrever estas linhas
para mais um editoral que era suposto
tratar somente de temas alegres. A nossa
maior e mais sincera solidariedade aos
nossos irmãos espanhóis e que possam
os Judeus da Comunidade Judaica em
Espanha, em Portugal e em todo o
mundo terem realmente um Pessach
Sameach em PAZ. Que a liberdade dos
povos, e a tolerância entre os seres huma-nos
seja definitivamente respeitada e que
este cancro do Século XXI chamado ter-rorismo
desapareça da face da Terra !
CHAG HAPESSACH SAMEACH A TODOS !
Marcos Prist
Director Executivo CILഊE
m resposta à solicitação da Comunidade Israelita de Lisboa,
os CTT- Correios de Portugal vão editar um selo comemora-tivo
Centenário, contribuindo assim para dar a este importan-te
acontecimento uma dimensão nacional e internacional.
O “Centenário” nas páginas de
Los Muestros
A revista Los Muestros - La Boz de los Sefaradim, dirigi-da
por Moise Rahmani, vai dedicar no seu próximo
número um importante espaço à nossa sinagoga com
fotografias e artigos vários. A Los Muestros e ao seu
director agradecemos por esta iniciativa que é um
importante contributo para a divulgação das nossas
comemorações e da nossa comunidade.
Exposição na Biblioteca Nacional
“Sinagogas Portuguesas”
No quadro das Comemorações do Centenário
da Sinagoga
A Biblioteca Nacional vai inaugurar uma exposição -mostra
bibliográfica dedicada às Sinagogas portugue-sas.
A exposição, organizada por Lúcia Liba Mucznik, é
inaugurada a 7 de Abril.
TIKVÁ, Março 2004 3
centenário da sinagoga
1904-2004
CENTENÁRIO DA SINAGOGA SHAAREI TIKVÁ
Os 100 Anos da Sinagoga Shaaré Tikvá
Selo Comemorativo do
Centenário da Sinagoga Shaaré Tikvá
Campanha de Angariação para as obras da Sinagoga
De Outubro de 2003 até agora foram foram arrecadados cerca de 60.000 € através de donativos realizados por
membros da CIL, amigos e simpatizantes em todo o mundo. Agradecemos imenso a todos os que já contribuiram
e que nos deram a sua efectiva manifestação de apoio e colaboração a esta grande causa. Entretanto, ainda
necessitamos muito de novas contribuições afim de fazermos frente a este grande projecto. Portanto não deixe
passar esta ocasião, única na sua vida, de participar de uma forma ou de outra na Comemoração do Centenário
da sua Sinagoga! Colabore !
É favor enviar a sua contribuição para:
Comunidade Israelita de Lisboa
Rua do Monte Olivete, 16 R/C - 1200-280 Lisboa - Portugal
Se preferir, pode fazer o seu pagamento através de transferência bancária para:
NIB: 0007 0006 0000 5570009 02
Em ambos os casos, por favor identifique: Fundo Obras SinagogaഊP: Nasceu e cresceu em Jerusalém, por entre as
muralhas da Cidade Velha. De que forma ter vivido
naquela cidade contribuiu para a sua forma de ver o
mundo?
Eu nasci realmente em Jerusalém, na cidade onde se
situam as mais profundas raízes do povo Judeu, na cida-de
mais sagrada e mais bonita do mundo, para mim.
O meu pai nasceu em Berlim, tendo a minha mãe fugi-do
com ele no último momento antes do rebentar da
guerra, quando ele tinha só quatro anos. Acabou por
ficar sozinho, durante os anos da Guerra, abrigado num
orfanato cristão, tendo sido depois levado para Eretz
Israel. A família da minha mãe, pelo contrário, já esta-va
há várias gerações em Israel, apesar das suas raízes
serem da Polónia. Eu vim a nascer em Jerusalém, e cres-ci
entre as muralhas da Cidade Velha.
A minha vivência naquela cidade contribui de forma
decisiva para a minha forma de ver o Mundo. Desde que
saí de Jerusalém, percebo que vejo e encaro o resto do
mundo de forma muito diferente; vejo o mundo através
dos olhos daquela cidade.
Foi também em Israel que casei com a minha mulher,
Sara, professora de Matemática crescida em Bnei-Brak, a
cidade mais religiosa de Israel. Temos cinco filhos, todos
rapazes, o mais velho com quinze anos e o mais novo
com um ano.
P: Saiu de Israel para diversas schlichuiot. Quais as
recordações mais marcantes dos locais por que passou?
Eu estive em vários lugares, desde Kiev ao Brasil, pas-sando
pela Índia.
O tempo que passei na Índia foi uma experiência muito
interessante. Os membros da comunidade não eram
realmente judeus, no sentido que hoje damos; não
eram descendentes da tribo de Yehuda. Eram descen-dentes
da tribo de Ephraim e Menashe e decidiram
regressar ao Judaísmo. Eu estive lá a ajudar a preparar
a Aliah.
P: Hoje é o Rabino da Comunidade de Lisboa. O que
o determinou a aceitar este desafio e como vê, hoje,
a nossa Comunidade?
Eu senti nesta Comunidade a presença de pessoas boas,
cheias de boa vontade, com desejo de ajudar e de fazer
as coisas.
Sei que existem algumas orientações diferentes e que
cada pessoa tenta puxar para seu lado, mas acho que o
que é importante é que todos vejam e sigam o mesmo
caminho, façam as coisas unidos. A Comunidade tem
que decidir o que realmente quer, escolher o que é mais
importante e abrir mão daquilo que interessa menos.
Numa comunidade pequena como a de Lisboa, mas
4 TIKVÁ, Março 2004
rostos da CIL
Entrevista com Rabino Boaz Pash
Conduzida por Diana Ettner
Chegado há cerca de dois meses a Lisboa, o Rabino
Boaz Pash trouxe consigo a vontade de trabalhar e de
contribuir para um maior dinamismo da nossa
Comunidade. A sua visão do Judaísmo, bem como as
linhas que traça para o crescimento da nossa CIL, dei-xam
bem claro que, a partir de agora, grande parte do
seu sucesso nesta Comunidade se deverá à capacidade
de entrega e à vontade de participar de cada um de
nós. Ao novo Rabino da CIL só nos resta desejar as
maiores felicidades!ഊcom uma História tão rica e tão longa, tem que entrar
na cabeça de todos que o Judaísmo é como um rio,
umas vezes mais largo e calmo, outras mais estreito e
revoltoso. O Judaísmo muda o tempo todo, o Judaísmo
do meu pai não é o mesmo que eu vivo, tal como a
vivência do Judaísmo dos meus filhos será diferente
daquela que é hoje a minha.
No entanto, os valores importantes vão continuar, por-que
são valores eternos. O resto, o que surge ao lado,
como acessório, aquilo que complementa esses valores
eternos, isso muda o tempo todo - e tem mesmo que
mudar! Ou a vida continuará sem nós.
Eu sinto que todos me aceitaram muito bem e de uma
forma muito bonita. Do meu lado, sinto muito amor e
vontade de fazer o melhor que posso.
Um dos meus grandes objectivos é tentar unir esta
Comunidade, ajudar as pessoas a ultrapassar as suas
diferenças de ponto de vista. E este caminho já come-çou.
Em Purim, na leitura da Meguila organizada pela
CIL, tivemos muitas pessoas presentes e unidas na cele-bração
daquela alegre festa.
P: Quais são para si os passos mais importantes a dar,
a curto prazo, na CIL?
Para mim, o passo mais importante a dar relaciona-se
com a educação. Sinto que existe na Comunidade uma
certa falta de educação judaica e de integração do que
é mais importante no ensino do Judaísmo.
Acho que desde há muitos anos se vê o Judaísmo como
uma coisa óbvia, que vai continuar, vai crescer sem se
fazer nada, tal como se de uma floresta se tratasse.
Mas não é assim. Se não for tratado, o Judaísmo não fica
como está; regride, volta para trás.
P: Essa constatação contribui, aliás, para tornar a
assimilação ainda mais perigosa.
Realmente assim é, sobretudo se considerarmos uma
sociedade como a portuguesa, onde não existe muito
antisemitismo. E para a assimilação existe um só remé-dio
- a educação. Ensinar as pessoas a entender melhor
o Judaísmo, o seu Judaísmo, o Judaísmo de cada um de
nós. Assim, e de forma natural, as pessoas não mais vão
querer assimilar-se. Outra solução passaria, simples-mente,
por fechar as portas da Comunidade ao mundo
exterior, mas essa é uma solução impossível e, até,
injusta. Pelo que o único caminho é o da educação.
P: E qual é, para si, o papel do Beit Knesset numa
comunidade?
Eu acho que o Beit Knesset, em si, não tem um signifi-cado
fundamental. O que realmente importa e interes-sa
são as pessoas que vão à Sinagoga. O Beit Knesset,
em si, são quatro paredes, um tecto e uma porta, que
naturalmente tem a sua importância histórica, mas
pouco mais; para a vida de uma comunidade, e mesmo
teologicamente, não tem um significado absoluto.
“Beit Knesset”, literalmente, significa Casa de Reunião.
As pessoas reúnem-se lá. Existem realmente regras
sobre a santidade da Sinagoga, mas isso deve-se sim-plesmente
ao facto de as pessoas rezarem lá.
Se as pessoas não forem à Sinagoga, então duas atitudes
têm que ser assumidas. Por um lado, o Beit Knesset tem
então que ir, ele próprio, até às pessoas, sair do seu
lugar físico e encontrar-se com as pessoas onde elas
estão, ensiná-las a rezar, aproximá-las. Por outro lado,
como o Beit Knesset faz parte da vida de uma comuni-dade,
tem que ter a cara dessa comunidade, tem que
ser o seu espelho e reflectir as suas vivências de forma a
que as pessoas se revejam na sua Sinagoga.
P: Como vê a sua função enquanto Rabino de uma
Comunidade?
Eu não me vejo como Rabino da Sinagoga. Eu sou o
Rabino da Comunidade, uma comunidade de centenas
de pessoas, não dezenas. O meu serviço e o meu papel
vai-se desenvolver em torno das pessoas da comunida-de,
quer dentro do Beit Knesset, quer fora dele.
As pessoas têm que entender que o papel do Rabino
não é só a Sinagoga e nada mais. O meu papel começa
no idoso sozinho num lar e acaba nas decisões da CIL.
Em todo o lugar precisamos sentir a influência da nossa
tradição.
P: É capaz de nos transmitir aquela que para si é a
grande mensagem do Judaísmo?
Eu não consigo responder a essa pergunta. Não posso
falar sobre o Judaísmo em geral; posso talvez falar
sobre o Judaísmo tal como ele surge hoje em dia.
O Judaísmo de hoje não é mais o Judaísmo praticado
por uma sociedade fechada, onde todos os seus mem-bros
cumprem as mesmas coisas e os mesmos rituais da
mesma forma.
TIKVÁ, Março 2004 5ഊ6 TIKVÁ, Março 2004
Hoje já não é assim, excepto, talvez, em algumas comu-nidades
pequenas e fechadas que ainda existem.
Hoje, do que se deve falar é da ideia, da ideia que o
Judaísmo trouxe para o mundo, da ideia da moral inte-rior
da pessoa tal como o Judaísmo a ensina.
Aliás, penso que hoje esta ideia tem uma importância
muito maior e um lugar muito necessário do que teve
em gerações passadas. A filosofia ocidental, baseada na
pessoa como o mais importante de tudo, centrada no
indivíduo com a possibilidade de escolher o seu próprio
caminho, torna a presença da moral interior dentro de
cada um como um aspecto muito importante e convo-ca
esse valor do Judaísmo de uma forma muito mais
forte.
O livre-arbítrio, enquanto base do Judaísmo, tem o seu
espaço no mundo de hoje.
P: Por fim, a pergunta inevitável. Quais são os seus
planos para o futuro?
Em primeiro lugar, continuar com as aulas que já inici-ei,
com a aposta na educação judaica, com o sistema de
ensino. Depois, abrir um Jardim de Infância em Lisboa.
E o meu grande objectivo é conseguir dedicar uma hora
de Judaísmo a cada um dos membros da Comunidade,
até aos mais jovens.
rostos da CIL
PESSACH 5764
Caro Correligionário
É com imensa satisfação que comunicamos a todos que a
Loja Corte Inglês em Lisboa terá um Stand completo com
produtos CASHER LE PESSACH, inclusivé carne.
Tudo de excelente qualidade e com a devida supervisão
Rabínica.ഊTIKVÁ, Março 2004 7
espaço aberto
“A Paixão de Cristo”
POSIÇÃO DO PATRIARCADO DE LISBOA
A
polémica que tem envolvido o filme “A Paixão de Cristo” de Mel Gibson sugere a existência de alguma ten-são
entre as comunidades judaica e cristã. Independentemente de qualquer avaliação cinematográfica ou
consideração teológica sobre a obra, queremos, nesta altura, sublinhar as boas relações e a colaboração hoje
existente entre ambas as tradições religiosas, tanto ao nível mundial como na cidade de Lisboa.
Num exemplo retomado com particular vigor por João Paulo II, a pessoa e obra do bom papa João XXIII rompe-ram
com séculos de inimizade e abriram caminho a uma declaração histórica do Concílio Vaticano II (Nostra aeta-te,
1965, 4), na qual se afirmou solenemente a respeito da morte de Jesus que «o mal praticado na sua paixão não
pode ser atribuído indiscriminadamente a todos os judeus que viviam então, nem aos judeus dos nossos tempos.
[...] Procurem, pois, todos não ensinar na catequese e na pregação da palavra de Deus qualquer coisa que não se
coadune com a verdade evangélica e o espírito de Cristo.»». E adiante se acrescenta que «a Igreja, [...] consciente
do seu património comum com os judeus e impelida não por razões políticas mas pela religiosa caridade evangé-lica,
deplora todos os ódios, perseguições e manifestações de anti-semitismo efectuadas em qualquer altura e por
quaisquer pessoas contra os judeus.»
Os bispos recomendavam: «uma vez que é tão grande o património espiritual comum aos Cristãos e aos Judeus,
quer este Sagrado Concílio fomentar e recomendar entre ambos o conhecimento e a estima mútua, que se obtém
principalmente por meio dos estudos bíblicos e teológicos e pelos diálogos fraternais.»
Em Lisboa, o contacto entre as comunidades tem sido crescente e amistosa. Gesto importante nesse processo foi
o abraço entre o Patriarca de Lisboa e dirigentes de comunidades judaicas, no largo de S. Domingos, por ocasião
do encontro «Oceanos de Paz», em Setembro de 2000. Não esquecemos também o momento histórico de oração
pela Paz, na Sinagoga de Lisboa, há um ano, em que a Igreja Católica se fez representar, juntamente com as outras
comunidades religiosas sediadas na cidade. Na mesma linha de aprofundamento de relações vai a colaboração iné-dita
entre as comunidades Israelita, Islâmica e Católica de Lisboa, no âmbito da Faculdade de Teologia, para valo-rizar
o património das respectivas tradições no nosso país através dum curso pela Internet, sobre Turismo e
Património Religioso.
Esperamos, portanto, que o filme de Mel Gibson, sendo ocasião de debate e mesmo de polémica, sirva de pre-texto
para reflectirmos melhor sobre o nosso passado e aprofundar as relações fraternas hoje existentes.
Pelo Departamento para as Relações Ecuménicas e o Diálogo Interreligioso
Padre Peter Stilwell
Divulgamos neste número um comunicado que nos foi endereçado pelo Patriarcado de Lisboa sobre o filme “A Paixão
de Cristo” de Mel Gibson. Como se sabe, este filme de uma violência extrema, põe em cena as últimas 24h da vida de
Cristo, retomando a tese da culpabilidade judaica, na morte e crucificação de Cristo, tese que foi banida da Igreja em
1965, com o Vaticano II. O filme tem gerado polémica em todo o mundo, pela leitura fundamentalista das Escrituras
cristãs e por fomentar o preconceito e o ódio religioso anti-judaico. Assim esta posição do Patriarcado de Lisboa, à
semelhança do que foi feito nos E.U vem lembrar o bom relacionamento judaico-cristão, quer a nível internacional,
quer a nível de Portugal, assim como a firme decisão de aprofundamento dessas relações.ഊ8 TIKVÁ, Março 2004
homenagem ao Dor Chadash
Tão jovem e já a fazer história ...
Nasci muito pequeno, mais cheio de ambições e coragem.
Penso até que nasci no meio de muita desconfiança e
poucas expectativas com relação a mim.
Sei que ainda sou apenas uma criança. Tenho muito a
aprender e a desenvolver.
Ainda cometo alguns erros e tenho uma vida para cor-rigí-
los.
Mas já dou os meus passos sozinho e com muita confi-ança.
Sei da minha responsabildade e não a temo.
Sou um miúdo, mas estou a crescer e a construir a
minha identidade com muita velocidade.
Sinto-me muito feliz e agradecido pelo carinho, apoio
e simpatia com que tenho sido tratado desde que
surgi.
Saiba um pouco mais de mim e sobre esta ainda curta
mas rica história que tenho estado a construir ....
Meu nome ? Bem, meu nome é...........DOR CHADASH.
OBJECTIVO PRINCIPAL
Implementação do modelo de movimento juvenil
actuando no sistema de auto gestão educacional, base-ado
no princípio do exemplo pessoal que garanta a
continuidade através do estímulo às novas gerações.
REALIZADO
• Criação do novo Movimento Juvenil Dor Chadash de
Lisboa em Fevereiro de 2002 com a participação média
de 25 jovens (7 madrichim)
• Definição e supervisão de estrutura organiza-cional
com cargos, funções e horários de encontros do
Movimento Juvenil Dor Chadash de Lisboa, liderado
actualmente por 6 jovens com idade mínima de 16 anos.
• Criação do Hino do Movimento Juvenil Dor Chadash
de Lisboa
• Participação de jovens no renovado Conselho
Editorial do Boletim Tikvá.
• Participação inédita de uma delegação de 10 jovens
da CIL nas Mini Olimpíadas inter-étnica realizadas
entre 25 e 28/04/02 em Meleças.
• Realização de 2 seminários de Capacitação (Jan 2002
/ Jan 2003) para Madrichim, com participação média
de 7 jovens com idade mínima de 16 anos.
•Participação de 10 jovens na organização da
Cerimónia de Início das Comemorações do Centenário
da Sinagoga realizada em 02/06/02.
• Participação efectiva no programa e organização dos
jovens em todos os eventos comunitários.
• Criação de um espaço próprio para encontros e reu-niões
dos jovens na Cave do Monte Olivete.
UMA HOMENAGEM ESPECIAL AO
MOVIMENTO JUVENIL DOR CHADASH DE LISBOA
Minha 1ª foto em Fev/2002 .
Éramos menos de 20 no total...
KVUTZÁ DE MATCHILIM (3 A 6 ANOS)ഊTIKVÁ, Março 2004 9
• Participação inédita de um jovem da Cil no
Seminário Diplomático realizado em Israel na sua
8ª edição de 23/4 a 24/4/03. Nno Martins foi o nosso
representante na ocasião.
• Realização de 2 Machanot (Acampamentos) de Verão,
respectivamente em Constância - (Julho 2002) e
Mucifal (Julho 2003), com a participação de 25 jovens
com idade a partir dos 06 anos de idade.
• Realização de Encontro com jovens judeus de Madrid
(Maio 2003) em Espanha com a participação de 18
jovens da CIL com idade mínima de 13 anos.
• Realizadas mais de 60 actividades do Movimento
Juvenil Dor Chadash neste período com a presença
média de 30 jovens com idade entre os 03 e 15 anos
anos de idade.
• Realização de Encontro com jovens judeus de Madrid
(Dezembro de 2003) em Portugal (Paialvo-Tomar) com
a participação de 18 jovens da CIL com idade mínima
de 13 anos
• Actualmente mais de 60 jovens participam das acti-vidades
do Dor Chadash KVUTZÁ DE GARINIM ( 8 A 12 ANOS)
KVUTZA DE TZEIRIM (13 A 15 ANOS)
Hoje temos 3 grupos com idades distintas e já somos mais de 60 chaverim (membros)!
HINO “KADIMA DOR CHADASH”
(Autor : Marcos Prist - Janeiro/2002)
ANACHNU HA TZEIRIM
SHEL LISBON
LAKACHNU BE IADEINU ET HAACHRAIUT
LEAHAVI ULEACHZIK
ET HA MASSORET VE HATARBUT
SHEL AMEINU
LA DOROT HACHADASHIM ...
DOR CHADASH, HA TNUÁ HARISHONÁ
VE IECHIDÁ BE PORTUGAL
IM KOACH, ACHAVÁ VE SIMCHÁ
LEOLAM NIHIE, ET LEV SHE HANOAR
BE KEHILATEINU
KADIMA DOR CHADASH (3X)
Dor Chadash, um trabalho de muito sucesso !
Graças ao jovens que os lidera com muito empenho e
dedicação e graças ao fundamental apoio dos pais e da
Direcção da CIL, o Movimento Juvenil Dor Chadash de
Lisboa chega ao seu 2º Aniversário com resultados sur-preendentes.
Foram mais de 60 actividades realizadas.
Já são quase 70 jovens participantes, com idades entre
03 e 15 anos e 8 madrichim com idade mínima de 16
anos, que todos os Domingos tornam possível este belo
trabalho. Criado em Fevereiro de 2002 o movimento
conta actualmente com uma significativa frequência
média semanal de 40 jovens, média esta digna dos
grandes e mais tradicionais movimentos juvenis exis-tentes
em todo mundo.
Parabéns e obrigado aos jovens madrichim que assu-miram
este desafio e o cumprem com toda dignidade.
Muito obrigado aos pais e a Direcção da CIL que cada
vez mais nos apoiam e incentivam. Mas ainda há muito
por fazer e mais gente para participar. Portanto ...
KADIMA DOR CHADASH !
Marcos Prist
Director Executivo CILഊ10 TIKVÁ, Março 2004
Grupo Guil Hazaav-Ano II
(Idade de Ouro)
Coral Etz Chaim
(Coral Musical Representativo da CIL)
Ainda não participa neste simpático e
agradável grupo??... Não perca mais tempo!
Actividades Especiais Permanentes
(música, ginástica, palestras, passeios...)
Para adultos a partir dos 60 anos
Encontros semanais às 4ª
s
feiras das 15h30 às
17h00, sede no Monte Olivete. Participação: 5 €
Movimento Juvenil
Dor Chadash de Lisboa-Ano II
A cada semana um novo participante!
Mais de 60 jovens já participam!
Agora só falta você!
Actividades todos os domingos, das 15h00 às 18h00,
na Vila Giralda, Rua de Inglaterra, 19 – Estoril
Jovens e crianças a partir de 4 anos
Participação: 5 € por semana
PORTAS SEMPRE ABERTAS
UM CLUBE PARA TODOS
ABRE BREVEMENTE
Mais informações pelo tel.: 21 393 11 30
Das 14h00 às 17h00 ou pelo e-mail
secretaria@cilisboa.org
CLUB HOUSE
Para adultos entre os 20 e 60 anos.
Encontros semanais: às 5ªs feiras das 20h00 às 21h30
sede em Monte Olivete. Participação:
5 € por encontro.
Inscreva-se já!
União Portuguesa
de Estudantes Judeus
super actividades mensais
para jovens entre 21 e 30 anos
Aguarde ...
UPEJ
Em breve na CIL ...
MACABI COUNTRY CLUB PROJECTO ATIDEINU
GAN IELADIM
Pré - Escola para
crianças entre os 2 e 6 ANOS
Em breve
Aguarde novas informações !!!
Interessados devem
contactar a nossa secretariaഊTIKVÁ, Março 2004 11
as nossas actividades
Grupo de Estudos sobre a
Parashá da semana
Todas as 6ª
s
feiras, às 18h00 no Monte Olivete.
Aberto para todos
Coordenação : Alain Hayat
CHUGUIM DE IVRIT
(CURSOS DE HEBRAICO)
Aulas para adultos e crianças
Domingos das 10h30 às 12h30 Casa do Rabino
2ªs feiras - das 20h30 às 22h00 Monte Olivete
3ªs feiras - das 11h00 às 13h00 Monte Olivete
Participe dos Serviços Religiosos
na nossa Comunidade.
Venha e traga toda a sua família !
6ªs feiras às 19h00
Sábados às 9h00
SEUDÁ SHILISHIT
Zmirot (canções) e a tradicional
refeição de Shabat
Todos os Sábados-Das 17h00 às 18h00
No Monte Olivete
Betsel Hatomer
(À Sombra da Tamareira)
Para Nashim (Mulheres)
Tema : Parashat Hashavua
Todas as 3ªs Feiras - às 19h00
na residência do Rabino Boaz
Estudo da Halachá
Aulas para adultos
4ªs feiras - das 21h00 às 23h00
Casa do Rabino
Curso de Bar e Bat Mitzvá
Aulas para crianças a partir dos 10 anos
4ªs feiras - das 17h30 às 19h00
Domingo das 14h00 às 15h00.
Monte Olivete
Estudo da Cabala e
Filosofia Judaica
Aulas para adultos
Domingos das 21h00 às 22h00
Casa do Rabino
5ª s feiras - das 11h00 às 13h00
local a definir
JUDAÍSMO ACTUAL
Aulas para jovens apartir dos 18 anos
5ªs feiras - das 21h00 às 23h00
Casa do Rabino
Mais informações e inscrições através
da nossa secretaria !!!
Participe das actividades e iniciativas da
Comunidade Israelita de Lisboa,
pois a nossa Comunidade é você !ഊ12 TIKVÁ, Fevereiro 2004
aconteceu na CIL
P
articipei no dia domingo 22 de Fevereiro 2004 (que
casualmente foi rosh hodech, o início do mês de
Adar) num evento de grande significado para o judaís-mo
em Portugal.
O motivo principal deste evento foi a festa dos 50 anos
da criação da Adega Cooperativa da Covilhã, actual-mente
dirigida pelo Eng. Rui Moreira a quem cabe o
total êxito desta manifestação. No decurso deste even-to
foi feito o anúncio da produção pela Adega duma
nova linha, o vinho cacher de marca “Terras de
Belmonte”. Para dar mais solenidade ao acontecimen-to,
foram convidados pela Adega membros das comu-nidades
judaicas de Lisboa (entre os quais o Rabino
Boaz Pash), de Belmonte e do Porto, e a Embaixada de
Israel representada pelo Cônsul Yakov Zecharia.
Também foi previsto na recepção um canto com comi-da
cacher para 50 pessoas.
Não é o facto em si de produzir em Portugal vinho
cacher que me parece importante. Houve no passado
algumas tentativas semelhantes. Mas desta vez, este
projecto tem uma explícita dimensão regional, nacio-nal
e mundial. A nível regional, esta actividade envolve
toda a região da Serra de Estrela. Os numerosos viticul-tores
que participarem neste evento já o sabem. Os
vários presidentes de câmaras municipais da região (e
queria destacar mais particularmente a intervenção do
Presidente da Câmara Municipal de Belmonte) também
estão conscientes dos benefícios económicos directos
do projecto para a economia local, (o investimento da
Adega foi planeado tomando em conta uma procura no
mercado dos Estados Unidos) ou através das conse-
quências esperadas para o turismo regional, como
o sublinhou Jorge Patrão, Presidente da Região de
Turismo da Serra de Estrela.
É de notar que a bandeira de Israel estava posta (e
como não lembrar que o escudo da Covilhã é justa-mente
a Estrela de David). Os órgãos de comunicação
social regional e nacional estavam presentes na mani-festação.
Voltemos ao início. A emocionante história, digna de
contos de fadas, foi contada pelo Sr. Rogério Mendes,
delegado do governo nos Estados Unidos para desen-volver
relações com as comunidades de origem portu-guesa.
Foi o espírito de retorno às suas raízes que inci-tou
Howard Abravanel, um poderoso negociante em
vinhos, a realizar o sonho de fazer reviver uma produ-ção
portuguesa de vinho cacher. Foi possível com a
dedicação a este projecto do Rabino de Belmonte,
Elisha Salas e com a ajuda da organização Amiel.
Estabeleceram a ligação com a poderosa Orthodox
United para que eles certifiquem a conformidade do
vinho com os critérios cacher. Resultou, e as primeiras
exportações já saíram. O abastecimento do mercado
local está para breve.
Damos as nossas boas vindas ao vinho “Terras de
Belmonte”, fazendo votos para que fique no mercado
por muito tempo, tornando-se um exemplo da partici-pação
da vida judaica na economia de Portugal.
Alain Haiat
Terras de Belmonte
Um novo vinho
casher produzido
em PortugalഊHomenagem à nossa Chevra
Kadisha
Por sugestão do nosso Rabino reuniram as secções mas-culinas
e femininas da Chevra Kadisha na sede da CIL
no Zain (dia 7) de Adar, dia do nascimento e da morte
de Moshe Rabenu. O dia Zain de Adar é o dia dos
chaverim em todo o Mundo Judaico e agora também
comemorado em Lisboa. O Rabino explicou que no dia
da morte de Moshe Rabenu mais ninguém faltou e os
chaverim não tiveram trabalho, já que Moshe foi enter-rado
por Hashem. O Rabino explicou também a natu-reza
espiritual do trabalho da Chevra comparando a
alma às letras do Sefer Torah e o corpo ao seu perga-minho.
O Sr. David Israel fez um breve discurso em que lhes
agradeceu o trabalho dos chaverim. Ainda alertou os
presentes para a necessidade de preservar o papel tra
dicional da Chevra como entidade independente, com
responsabilidade predominante na gestão do Beit
HaHaim.
Ainda comentou a tradição nas comunidades sefarditas
de honrar os chaverim em todos os simchot, dada tanto
a importância fulcral da missão da Chevra e a sua natu-reza
reservada e voluntária.
Em representação da direcção, José Salomão Ruah, tam-bém
chaver, agradeceu o trabalho da Chevra. Seguiu-se
uma breve discussão entre os chaverim onde se decidiu,
por aclamação, nomear a Sra. D. Estrela Cadosh, decana da
secção feminina da Chevra, como Presidente da mesma.
Foi servido um kibud excelente preparado pela Rabanit
Rebeca Assor que foi regado com um bom whisky escocês.
A reunião terminou com uma Hashcaba aos antigos
membros da Chevra, e com o cantar do Yigdal que
regista a nossa fé na ressurreição dos mortos. Os pre-sentes
fizeram votos para que esta a reunião se repita
no dia 7 de Adar nos anos vindouros.
Colaboração de Mark Robertson
TIKVÁ, Março 2004 13
Palestra Especial de Purim da CIL
No início do mês de Março, na véspera do Jejum de Esther, realizou-se mais uma palestra proferida pelo activista
e colaborador da CIL - Alain Haiat. A palestra teve como tema : “Purim : A Fé na Socidedade Civil”, que gerou um
interessante debate entre os presentes.ഊPURIM INESQU
14 TIKVÁ, Março 2004
Leitura Especial da Meguilá
As comemorações da Festa de Purim na CIL tiveram
início no sábado à noite de forma muita alegre, inte-ractiva
e divertida com a tradicional leitura da
Meguilat Esther. Com a nossa Sinagoga ainda em obras
e na expectativa de se reunir um grande número de
pessoas da nossa Comunidade, o evento foi realizado
no Hotel Metropolitan em Lisboa. E as expectativas
foram correspondidas. Mais de 130 pessoas, muitas
mascarados e no espírito da festa estiveram presentes
nesta noite e acompanharam com muita atenção a
leitura da Meguilá feita pelo nosso Rabino Boaz Pash e
desta feita com uma novidade: a traducção em portu-guês
interpretada pelos jovens do Movimento Juvenil
Dor Chadash de Lisboa que permitiu aos presentes per-ceberem
em detalhes esta rica passagem da história do
nosso povo. Outra interessante forma de participação e
interactividade das crianças e adultos presentes foi a
distribuição de um questionário com perguntas alusi-vas
à Festa de Purim. As crianças durante a leitura da
Meguilá e com a ajuda dos pais respondiam às ques-tões
e ao terminarem habilitavam-se a participar do
“PUR” - um sorteiro especial que no final da festa dis-tribuiu
prémios às crianças que responderam correcta-mente
às perguntas. O evento ainda teve tempo para o
vinho, música, dança e muita confraternização entre os
presentes, como manda a tradição.ഊUECÍVEL NA CIL
TIKVÁ, Março 2004 15
aconteceu na CIL
Festa de Purim e 2º Aniversário
do Dor Chadash
Ainda no espírito alegre e participativo do sábado à
noite, chega à tarde de domingo, na Vila Giralda, para
mais uma comemoração. Aliás uma dupla comemora-ção.
Para além da Festa de Purim, o Movimento Dor
Chadash de Lisboa convidou os seus participantes, pais
e familiares para comemorar o seu segundo ano de
existência. E já que o primeiro ano não foi comemora-do,
a festa desta feita seria a dobrar....E assim foi.
Mais de 120 pessoas, quase que rigorosamente dividi-dos
entre os jovens e os adultos presentes, aproveita-ram
a bela tarde e comemoraram com muita intensi-dade.
O programa era intenso e teve início com uma
reunião com os pais, quando Marcos Prist - Director
Executivo da Cil, apresentou um relatório e breve histó-rico
dos primeiros 2 anos de actividades e daquilo que
está programado para o futuro. Enquanto isto os jovens
e crianças participavam de uma divertida “Caça ao
Tesouro” e um “Futebol Cultural” alusivos à Purim e
dirigidos pelos madrichim. Em seguida um momento
de muita descontração, quando jovens e familiares
reuniram-se para uma grande competição: a “Gincana
de Tarefas”. Os adultos nada deixaram a desejar e no
espírito de muita colaboração, foram divididos em 2
grandes grupos, e competiram com os outros 4 grupos
de jovens. Todos participando activa e simpaticamente
das competições, o que de certo deixou os jovens
muito orgulhosos e satisfeitos com esta grande confra-ternização.
Depois seguiu-se o tradicional e não menos
alegre baile e concurso de máscaras com direito a um
saboroso “kibud” de Purim. A tarde encerrou-se com a
realização do “Mifkad” - cerimónia de encerramento
das actividades realizada todos os domingos pelos
jovens do movimento e que desta feita contou com a
presença dos pais e familiares. Momento este que cer-tamente
ficará na memória de todos e que esperamos
que se repita por muitos anos com a mesma alegria !
Kadima Dor Chadash !!ഊEm memória de Miriam Bitton - Z´L
O nosso amigo de Lisboa, Isaac Bitton, há muitos anos
residente nos Estados Unidos, teve o bonito gesto de
enviar ao Keren Kayemeth Le-Israel uma oferta de árvo-res,
na “Floresta Portugal”, em memória de sua chora-da
esposa, Miriam z”l. Foi um gesto que muito nos
sensibilizou, pois prova, uma vez mais que o Isaac
nunca esqueceu Portugal, onde nasceu e de onde saiu
há tantos anos. A “Floresta Portugal”, em Yatir, norte do
Negev, foi uma iniciativa da Liga de Amizade Israel--
Portugal, e já ultrapassou as 7000 árvores. A meta que
teremos que atingir, para ser realmente uma “floresta”,
é de 10 mil árvores. Isaac Bittion desempenhou um
importante papel na consagração do diplomata portu-guês
Aristides de Sousa Mendes, um dos principais
“Justos das Nações” do “Yad Vashem”, cujo nome foi
dado recentemente a uma rua de Telavive, a inaugurar
oficialmente muito em breve. E foi também o iniciador
e dinamizador do importante projecto de reparação do
cemitério judaico de Faro.
Liga de Amizade Israel-Portugal
Telavive
Campanha do
Agasalho da CIL
Cumprindo com os milenares preceitos de Tzedaká
( justiça com solidariedade) e Tikum Olam (aperfeiçoa-mento
do mundo), a CIL realizou recentemente uma
Campanha de arrecadação de roupas e agasalhos cujo
ponto central da colecta ocorreu na Festa de Chanuka
da Cil realizada durante o mês de Dezembro. A arreca-dação
seguiu até ao final de Fevereiro e as muitas
doações recebidas foram recentemente destinadas ao
Exército da Salvação - entidade internacionalmente
reconhecida e indicada para inúmeros prémios huma-nitários.
Em Portugal esta entidade atende a milhares
de sem-abrigos de diversas faixas etárias.
16 TIKVÁ, Março 2004
aconteceu na CIL
COMUNICADO DA SOMEJ NOPHLIM
Na edição do Tikvá do passado mês de Abril, na rúbrica “Aconteceu na CIL” vem uma nota dando conta da elei-ção
da nova Direcção da Associação Israelita de Beneficência “ Somej Nophlim”.
Parece-nos oportuno partilhar com todos os membros da nossa comunidade alguns dos objectivos que esta
Direcção deseja ver realizados durante o primeiro ano de trabalho.
• Estamos em vias de terminar a lista de todas as pessoas que têm estado a receber auxílio da “S.N.”, auxílio esse
não apenas material, mas também de acompanhamento e atenção.
• Vamos também começar a receber roupas em 2ª mão, isto é, roupas nossas que já não usamos, mas que ainda
estão em condições aceitáveis para as vendermos e com isso aumentarmos a nossa capacidade de ajuda aos
necessitados.
• Os Estatutos da “Somej Nophlim” datam de 1922 e, como todas estamos de acordo que estão obsoletos, inici-amos
o processo, que será certamente complicado e longo, de os actualizar. Aceitamos e estudaremos com
atenção as sugestões de qualquer membro da Comunidade e ponho à disposição para tal o meu e-mail,
goldfer@usa.net.
Para todos os que são, ou em breve virão a ser, sócios da “Somej Nophlim” gostaria de lembrar que a quota anual
mínima é de 120 Euros e de 60 Euros para os sócios até aos 25 anos de idade. Referi-me ao montante da quota
mínima, mas quem quiser pode dar mais!
Queremos agradecer à CIL o apoio logístico que nos tem dado e estamos convictos que, juntando os nossos esfor-ços,
seremos capazes de levar a bom porto as tarefas que temos pela frente.
Pela Direcção da Somej Nophlim
Gaby G. FerreiraഊTIKVÁ, Março 2004 17
“Questão demográfica”: eis um assunto que tira o sono a
muitos judeus em Israel e no mundo. O que acontecerá
em Israel daqui a dez anos, quando houver mais árabes
que judeus entre o Jordão e o Mediterrâneo? A assimila-ção
está a acabar com o judaísmo no mundo? Relaxar as
exigências nas conversões é solução para aumentar a
quantidade de judeus ? Sergio Dellapergola, professor de
origem italiana da Universidade de Jerusalém, conheci-do
como “o demógrafo do povo judeu” é o melhor para
responder a estas perguntas. Ele visitou todas as comu-nidades
judaicas deste planeta com mais de 25 mil
membros, menos a Austrália, publicou mais de cem
trabalhos e ensinou em quarenta universidades e insti-tutos
ao redor do mundo. Hoje, é um dos directores do
Instituto de Planeamento de Políticas para o Povo Judeu,
em Jerusalém, onde deu a seguinte entrevista:
Hoje, em Israel, cada vez mais vozes alertam que por
volta de 2013 haverá mais árabes que judeus entre o
Jordão e o Mediterrâneo. Mas há alguns dias, Ariel
Sharon declarou que não está preocupado pois confia
numa grande aliá nos próximos anos. Como o senhor
analisa esta situação ?
Ariel Sharon espera um milhão de novos imigrantes. Mas
de onde virão eles? Hoje a maioria dos judeus vive nos
países ocidentais, nos EUA, na Austrália e na Europa.
Nesses lugares o nível de desenvolvimento é alto e pouca
a discriminação contra os judeus. Por que viriam para
um país de nível de vida mais baixo e mais insegurança
política ? Outra condição para haver imigração seria a
estabilização do Médio Oriente e acontecer um novo
boom económico, situação que não ocorre hoje.
O que acontecerá quando houver uma maioria árabe
em Israel ?
Chegaremos a uma situação inaceitável para aqueles
que sonharam com um Estado judeu. Teremos então
algumas alternativas. Poderemos manter 4,7 milhões de
árabes sem direitos civis ou transferi-los para a Jordânia,
que são duas ideias inaceitáveis. A terceira alternativa é
dividir o território em dois Estados, um judeu e um
árabe.
Hoje Israel já é um dos países mais povoados do
mundo, descontando o deserto do Neguev. Haverá
lugar para acomodar mais habitantes ?
Na década de 20 viviam aqui um milhão de pessoas e já
se perguntava qual seria a capacidade da região.
Segundo alguns, o máximo seria 2,5 milhões, outros fala-vam
em 10 milhões. Pois bem hoje já somos 10 milhões,
entre israelianos e palestinos. Se tudo continuar como
está hoje, no ano 2050 seremos 36 milhões de pessoas
entre o Jordão e o Mediterrâneo. Será possível viver?
Dependerá da tecnologia disponível, da habilidade de
organizar o território e de prover recursos essenciais
como água e ar puro.
Também há vozes que defendem um maior relaxa-mento
das leis de conversão para aumentar o número
de judeus. Isto poderia ser uma solução ?
Segundo algumas pesquisas, os filhos de casamentos
mistos tendem a se casar com não-judeus numa propor-ção
ainda maior que a média da comunidade. Isto acon-tece
também com crianças produtos desses casamentos
e que foram criadas como judias. Isto mostra que elas
não são suficientemente motivadas, não recebem o
conhecimento necessário sobre o que significa pertencer
a uma comunidade judaica. Uma conclusão disto tudo é
que um rito de admissão ao judaísmo que seja brando e
não tenha um mínimo de requisitos, só terá um forte
impacto a curto prazo. As comunidades judaicas recebe-rão
novas pessoas, mas elas também tenderão a sair
bastante rápido. Abaixar as exigências não garantirá a
expansão da comunidade a longo prazo.
A Torá diz que o povo judeu é, numericamente, o menor
de todos os povos. Ele continuará sendo assim no futuro ?
A Torá também ordena que nos multipliquemos e diz
que um dia seremos tantos quanto o pó da terra. Assim,
nosso nível populacional está condicionado ao nosso
comportamento. Segundo a Torá, se nos comportarmos
devidamente, seremos numerosos. Do contrário, perde-remos
tudo. Isto é o que está escrito.
Números
• Em 1945, havia 11 milhões de judeus no mundo. Hoje
este número é de quase 13 milhões.
• De cada 480 seres humanos na Terra, 1 é judeu.
• Os EUA têm a maior comunidade judaica: 5,3 milhões,
seguidos de Israel, 5 milhões, e da França, 500 mil.
• No Brasil vivem pouco menos de 100 mil judeus.
• Os judeus representam 81% da população de Israel
(“linha verde”). Em 2050 esta porcentagem cairá para
74%.
• Atualmente, cerca de 760 mil israelenses vivem fora do
país.
• A comunidade judaica da Rússia tem a maior porcen-tagem
de casamentos mistos - 78% - comparada com os
judeus dos EUA - 51%, e da França - 40%.
Fonte : Site Alef Plantão
momento de reflexão
Sergio Dellapergola, o “demógrafo do povo judeu”ഊ18 TIKVÁ, Março 2004
CASH ONLY, PLEASE.
As recentemente relatadas notícias de incursões das “forças de segurança” de Israel em instituições bancárias da
Cisjordânia deixaram-nos, leitores, ouvintes e telespectadores portugueses, de sobrolho levantado, sem saber o que
pensar. No entanto, reflectindo melhor, não há dúvida de que, aí como em qualquer outro lado do mundo, os
movimentos das contas bancárias acabam por ser uma importante fonte de informação na luta contra o crime, a
corrupção e, claro está... o terrorismo. Quando os há, pois este tipo de actividades não gosta de deixar rastros, para
além dos que infelizmente ficam nas suas vítimas, e prefere o “dinheiro vivo”.
As principais fontes de rendimento oficiais da Autoridade Palestiniana são os americanos, os europeus e, curio-samente,
Israel (uma reminiscência dos já caducos Acordos de Oslo). Quanto aos primeiros, conforme divulgado
por fontes da imprensa israeliana, decidiram “fechar a torneira” enquanto a Autoridade Palestiniana não lhes
entregar os assassinos de três agentes da CIA, mortos em viagem numa explosão na Faixa de Gaza em Outubro do
ano passado. A União Europeia, eventualmente pressionada pelos americanos, também ameaça cortar as remes-sas
e, em Fevereiro, o primeiro-ministro Ahmeid Qureia fez a sua primeira digressão pelo velho continente desde
que foi eleito, tentando resgatar os fundos de que tanto precisa e que representam 60% das suas receitas. Segundo
as fontes já citadas, no seu regresso, Arafat ficou furioso com o resultado das negociações: a Europa aceitou conti-nuar
a pagar os cerca de 100.000 salários de funcionários da Autoridade Palestiniana mas recusa-se a faze-lo em
numerário. A condição é de que o dinheiro passe a ser depositado directamente nas contas bancárias dos benefi-ciários
e, caso não tenham, serão emitidos cheques nominais. Isso fará com que: primeiro, as milícias palestinia-nas
tenham de se identificar no banco; segundo, deixem de depender das pressões e das “missões” impostas por
Arafat para a sua sobrevivência económica pessoal e familiar.
Fontes palestinianas citadas em Israel relatam que o Presidente da Autoridade Palestiniana se sente pressionado
e foi recentemente surpreendido por um abaixo-assinado de 400 membros do Fatah denunciando actos de cor-rupção
interna, apontando o envolvimento de Mohammed Rashid (um antigo consultor financeiro de Arafat) e de
Kharabi Sarsur, o homem que detém, actualmente, “as chaves da caixa dois”. E se Rashid já deslocou os seus negó-cios
para Londres e para o Cairo, o nome de Sarsur deveria ser um segredo bem guardado.
Durante as suas viagens aos E.U.A. alguns banqueiros palestinianos com negócios com a Autoridade Palestiniana
têm sido convidados a ter “conversas de esclarecimento” com o FBI, sobretudo a propósito da fortuna de Arafat e
das suas eventuais contas secretas. Pior que isso, é do conhecimento geral que as autoridades da França e da pró-pria
U.E. estão a investigar as contas bancárias de Mme. Suha Arafat, a esposa do presidente que reside em Paris,
a propósito de transferências de cerca de um milhão de dólares por mês oriundas de uma conta numerada na Suiça
para a sua conta parisiense. Será que Arafat teme que através da pressão que está a ser exercida sobre a esposa
seja possível chegar às suas contas pessoais e/ou contas secretas que alegadamente possui em bancos Suíços?
A fortuna pessoal do Presidente dos palestinianos é avaliada por fontes financeiras da Europa ocidental em cen-tenas
de milhões de Euros.
Gabriel SteinhardtഊTIKVÁ, Março 2004 19
“As vozes das crianças do coro Ankor ecoam o puro som dos anjos”, disse Zubin Mehta no final da peça musical
“Resurrections” de Noam Sheriff, interpretada pelo coro no Centro Barbican em Londres.
O Coro Ankor foi fundado em 1983 e é constituído por 40 crianças, com idades compreendidas entre os 11 e os 18
anos, as quais recebem aulas de canto, solfejo e preparação especial, para além dos ensaios gerais que têm lugar
duas vezes por semana.
O repertório do coro inclui peças, que vão do Renascimento à época contemporânea, com especial ênfase para as
composições israelitas e de música clássica.
O coro actua amplamente em Israel e no estrangeiro, em concertos organizados pelo próprio coro ou com orques-tras
de renome, e ainda em cerimónias nacionais. Neste âmbito, destacam-se as actuações por ocasião do Dia da
Memória Nacional, e actuações perante altas individualidades mundiais como o ex-Presidente Clinton, o Príncipe
Filipe da Grã Bretanha, a Rainha da Holanda e o Papa João Paulo II.
Este coro de 20 crianças vai actuar em Lisboa, na cerimónia de Yom Hazikaron, no dia 25 de Abril de 2004, que
terá lugar no Espaço Chiado, pelas 18h30 horas.
Alguns excertos publicados na Imprensa internacional:
“...O coro Ankor foi convidado para actuar com a Orquestra Filarmónica de Berlim - uma das melhores orquestras
do mundo, se não a melhor...”
Idit Neeman, Yediot Aharonot, 1993
“...Bill Clinton, Presidente dos Estados Unidos, enviou uma carta pessoal ao maestro do Coro “Ankor” de Jerusalém,
“Obrigado por este vosso presente tão especial... ......
Jerusalém, 1994
“... O Coro Ankor de Jerusalém brilhou para além de todas as expectativas. Vozes maravilhosas ecoaram do palco.
Um som marcante. Este é o único coro de crianças preparado para actuar hoje em dia em qualquer parte do
mundo, sem que nos sintamos envergonhados. São merecedores de aplauso ...”
Hanoch Ron, Yediot Aharonot, 1997
Israel em foco
Coro Ankor de Israel vem a Lisboaഊ20 TIKVÁ, Março 2004
A CIL NA TV
• Programa Fé dos Homens na RTP 2
Segunda-Feira, 5 de Abril, 18h30
Tema: “Pessach - A Páscoa Judaica”
Programa mensal da Comunidade dedicado ao Judaísmo Português
Seder de Pessach
Comunitário
da CIL ( 2º Seder)
Para toda a Comunidade
Crianças, Jovens e Adultos
Dia 6 de Abril - 3ª feira - Às 20 horas
Inscrições até ao próximo dia 1/4/03
Participação Especial :
Movimento Juvenil
Dor Chadash de Lisboa
Grupo Guil Hazzav / Coral Etz Chaim
• As pessoas que não tiverem onde passar o 1º Seder,
é favor contactar com o Rabino Boaz pelo telemóvel
91 9899637
CERIMÓNIA DE YOM HASHOÁ
EM HOMENAGEM ÀS
VÍTIMAS DO HOLOCAUSTO
Dia 17 de Abril - Sábado - 18h45
No Monte Olivete
Logo após o serviço
de Minhá às 18h30
Participação :
Coral Etz Chaim
Jovens do Movimento Juvenil
Dor Chadash
RECORDAR PARA QUE
NUNCA MAIS ACONTEÇA !
PARTICIPE. VENHA E TRAGA TODA A SUA FAMÍLIA.
CONTAMOS COM A FUNDAMENTAL PRESENÇA DE TODOSഊACTO SOLENE DE
YOM HAZIKARON
EM HOMENAGEM
AOS SOLDADOS CAÍDOS POR ISRAEL
Dia 25 de Abril - Domingo - às 18:30 horas - No Espaço Chiado
Participação : 5 €
Apresentação Especial
Coro Ankor de Israel
Coro Etz Chaim da CIL
Grupo Guil Hazaav
Movimento Juvenil Dor Chadash
• 18h30 - Acto Solene de Yom Hazikaron
• 19h15 - Intervalo e Serviço de Arbit
• 19h30 - Apresentação do Coro Ankor de Israel com a participação dos Corais Etz Chaim
e Guil Hazaav da CIL
Realização
TIKVÁ, Março 2004 21
em Abril
EMBAIXADA DE ISRAEL
EM PORTUGALഊP
arabéns à dinâmica direcção da CIL, que, mês
após mês, nos surpreende com novas iniciativas e
novas actividades.
O convite aos sócios para participarem na semanal
“terceira refeição” de Shabbat, faz-me recuar no tempo,
até aos meus doze anos, quando me preparava para a
Bar Mitzvá, tendo como mestre o descansado e saudo-so
senhor Moisés (Maurício) Goldreich.
Uma das lições semanais era dada ao sábado à tarde,
na antiga sinagoga ashkenazi “Ohel Yaakov”, então a
funcionar ainda na Avenida Miguel Bombarda, por
cima de uma garagem. Eu já conhecia o sítio, porque o
meu primeiro mestre de judaísmo, o senhor Chaim
Kinreich, um refugiado polaco, quando eu tinha 6 ou 7
anos, me levava também para a Ohel Yaakov, para as
orações da manhã. Um ritual, a que nem eu, com a
minha idade, podia (e queria!) escapar, era, na “afsaká”,
entre Shaharit e Mussaf, comer uma fatia de bolo de
mel, molhada num cálice de “schnapps”.
As lições de sábado com o senhor Goldreich destina-vam-
se, principalmente, a habituar-me a participar nas
orações de sinagoga. Apesar de eu estar a aprender a ler
com a pronúncia sefardita, eu tinha que acompanhar
min’há, segundo o ritual da casa, e, logo a seguir, tinha
a minha lição.
Terminada esta, chegavam as pessoas para a “Seudá
Shelishit”, que ali tinha o nome em yidish “Shalosh
sidas”, ou seja “Três refeições”.
Sentavamo-nos todos em redor de uma grande mesa,
no centro da qual estava um recipiente muito grande
com grão de bico cozido. Provavelmente seria uma ter-rina
ou uma tigela muito grande, mas a recordação que
eu tenho é de um alguidar...Em frente de cada pessoa
havia um pequeno cálice, uma garrafa, que circulava, e
cada um ia tirando uma mão cheia de grão, que descasca-va
com os dedos, deixando as cascas em cima da mesa...
E rapidamente se desenvolvia uma animada conversa,
em Yiddish evidentemente, da qual eu não compreen-dia
quase nada. Contudo, quer me parecer, à seme-lhança
das conversas de café dos “yiddishistas” aqui de
Israel, que os temas seriam menos “divrei Torah” e mais
contribuições sofisticadas para a solução de todos os
problemas cruciais do Mundo, naquela altura. Pouco
antes de aparecerem as estrelas, já a discussão ultra-passava
as desejadas “águas calmas” e já se trocavam
argumentos muito agitados, que felizmente se inter-rompiam
para rezar o “arbit” (“muuriv” no dialecto da
casa). Mal terminava a oração a discussão recomeçava,
agora já em tons bastante elevados e agitados, que con-tinuavam
pela rua fora. Havia ameaças, que eu conse-guia
compreender, atentados verbais contra as barbas
dos participantes, que felizmente não chegavam nunca
às vias de facto...Mas, “ma yomru hagoyim?”, o que, tra-duzido
livremente em português, significa “que diriam
os vizinhos sobre o comportamento dos judeus?”.
A recordação de judeus a discutirem nas ruas de Lisboa
faz-me lembrar uma história que me contaram, e por
cuja veracidade e exactidão não posso dar garantias.
Passou-se numa das antigas sinagogas de Lisboa, antes
da «Shaaré Tikvá». Esta já fez 100 anos... e eu ainda não.
Duvido, pois, que ainda haja quem se lembre desta his-tória,
mesmo que só por ouvir contar. Mas, se me apa-nharem
nalguma inexactidão, terão que me perdoar.
Pois lá diz o adágio; quem conta um conto, acrescenta
um ponto. Não sei porquê, parece-me que me disseram
“na Rua do Crucifixo”, mas deve ser confusão minha,
pois aí não houve sinagoga. Talvez no “Beco dos
Apóstolos”. É fácil confundir. Passou-se esta história
numa festa de Succot.
Era costume, nessa altura, haver nas sinagogas uma
mesa, onde as famílias colocavam os seus copos com
azeite e uma torcida acesa, como que uma candeia, em
memória dos seus mortos. Geralmente davam dinheiro
ao “shamas”, para que comprasse o azeite e tivesse o
cuidado de manter sempre a chama alimentada.
Pois naquela noite, um dos “yehidim” da daquela esno-ga
encontrou a sua candeia apagada. Interpelou muito
zangado o “shamas” e este justificou-se dizendo publi-camente
que o senhor não tinha dado o dinheiro para
o azeite. Ficou o outro assaz furioso, explicando que a
culpa fora do “shamas”, que o não procurara.
22 TIKVÁ, Março 2004
“SEÚDA SHELISHIT”
Recordações do meu tempo e do passadoഊNo dia seguinte, depois de Mussaf, a discussão recomeçou.
Alguns dos presentes assumiram a defesa do “shamas”,
outros a do queixoso, os tons subiram rapidamente, e a
certa altura houve quem se não contivesse e atacasse
um dos contendores com a arma que tinha na mão: o
lulav!.
É fácil de imaginar a guerra de lulavim, que se sucedeu.
O pior é que a luta não terminou dentro da esnoga.
Continuou para a rua. Alguém terá chamado um polí-cia,
este pediu reforços, e finalmente conseguiram pôr
fim à guerra dos judeus.
Imagino a perplexidade dos agentes da ordem, face às
estranhas armas de combate que os judeus inventaram...
As palavras são como as cerejas? As candeias das almas,
a que atrás me referi, fazem-me puxar pela última
e com esta me fico. Entre os responsáveis pela esnoga “Ets
Haim 1.ª”. , na Travessa do Ferregial, no tempo em que a
minha família a frequentava - eu disse acima que ainda
não fiz 100 anos?
Pois não, mas esta esnoga manteve-se aberta até 1951!
- havia muito respeito e consideração por um vizinho
que morava do outro lado da pequena rua, dois prédi-os
abaixo. E foi assim a história que me contaram, tam-bém
anterior ao meu tempo.
Na noite de Kol Nidré era costume algumas pessoas
ficarem depois de Arbit a ler o “Keter Malhut”, do Ibn
Gevirol, e depois dormirem na esnoga, sobre colchões
colocados no chão.
No ano, em que isto se passou, não ficou ninguém. E
logo por pouca sorte, a mesa com as candeias acesas
ficou demasiado perto da janela, esta ficou entreaber-ta,
levantou-se vento durante a noite, e a cortina pegou
fogo. Felizmente, os vizinhos deram por isso, chamaram
os bombeiros, e estes conseguiram evitar que o incên-dio
se propagasse.
Quando os judeus voltaram de manhã para Shaharit,
encontraram a sinagoga queimada, mas nada de
demasiado grave. Os vizinhos, muito excitados, relata-ram-
lhes o que se tinha passado.
O mais grave foi que encontraram o armário, que servia
de Ehal, vazio! Os dois Sifrei Torah tinham simplesmen-te
desaparecido! Porém, a desolação deles não durou
muito. Sem demora chegou o tal vizinho, conduzindo
com muito carinho um dos Sifrei Torah e pedindo que
alguém viesse a casa dele buscar o segundo.
«Eu sabia que isto era o mais importante para vocês!
Por isso os guardei em minha casa.»
Como é que ele sabia? Não sei. Mas lembro-me muito
bem da amizade que todos tinham com aquele vizinho
“Hassid Umot HaOlam”.
Inácio Steinhardt
contando a nossa históriaഊ“Machloket”
Uma palavra com carga. Ninguém fica apático perante dela. Mas muito depende onde ela soa; se for no Beit
Hamidrash - soa óptimo, faz pensar, desperta o cérebro, esclarece a matéria. A discussão sempre foi uma natureza
nossa, a forma de Talmud de nos ensinar a pensar.
Mas fora de Beit Hamidrash, na rua, numa conversa comum ela, subitamente, recebe outra imagem, negativa,
assustada, destrutiva, cheia de todos os pecados, Lashon Hara, Rechilut, Mentira e mais e mais. Quem conseguia
fugir e salvar a sua alma - fugia. Ninguém saiu de uma Machloket a ganhar.
Esta palavra já destruiu comunidades. Ela tem a mecânica de se multiplicar como um fogo no campo de espinhos.
“Afaste-se da Machloket como de um incêndio” advertiram-nos os nossos sábios.
De onde vem esta diferença? Por que uma Machloket é boa e a outra é tão má? Por que uma faz as pessoas apro-ximarem-
se uma da outra, e a segunda divide os corações?
(para quem ainda não percebeu, “Machloket” significa disputa, desacordo).
Explicam CHaza”l em Pirkei Avot (5:19): Toda a disputa com intenções pró-Deus (=”Leshem Shamayim”), no final
terá êxito. E o que não for com estas i
Intenções (=”Shelo Leshem Shamayim”) não terá êxito. Por exemplo: as disputas entre Hilel e Shamai (em torno
das interpretações das leis da Torá) foram com puras intenções para o céu, e o de más intenções foi o de Korach
com sua congregação (contra Moisés e Aharon).
Tudo, portanto, depende das intenções, de onde vem, do coração puro, da boa vontade, do propósito melhorar as
coisas, ou do contrário.
A pergunta que temos de colocar antes de expressar nossa posição é simples: de onde vem a ideia? Qual é a sua
origem? Da boa intenção, construtiva, com objectivo de melhorar a realidade?
Se a intenção é boa temos de expressar a nossa posição ou oposição - o parceiro vai entender e não se vai ofender,
ele vai sentir a verdade das palavras. É para falar - é “leshem Shamayim”, é crítica positiva que “terá êxito” porque
ela tem base.
Mas se não, é melhor calar-se e não abrir uma Machloket “Shelo leshem Shamayim” que vai adiantar nada, só dei-xará
pessoas magoadas e ofendidas. O compromisso, o acordo, o entendimento comum, é isto o necessário para
construir uma sociedade saudável e desenvolvida.
Vamos adoptar o ensinamento de Hilel - o símbolo de tolerância e paciência - que dizia: “Sede discípulos de Aarão
amai a paz e cativai a paz, amai a humanidade...” (Avot 1:12)
Tem comentários? Desacordos? Dúvidas? Escreva-me: rabino@cilisboa.or
24 TIKVÁ, Março 2004
e dizia o Rabino ...ഊTIKVÁ, Março 2004 25
Sites
• Blog “ Rua da Judiaria” - http://ruadajudiaria.blogspot.com/
Não deixe de consultar o blog “Rua da Judiaria” de Nuno Guerreiro, muito bem feito e instrutivo com opi-niões
e comentários sobre assuntos de actualidade e uma vasta informação de interesse judaico. No cabe-çalho
tem a seguinte frase:
“Quem é sábio? Aquele que aprende com todos.” Ben Zoma, Pirkei Avot 4:1
• Curso de Formação Especializada “Turismo e Património Religioso”
www.ucp.pt/ft/fr-Agenda.htm - Faculdade de Teologia - Instituto de Ensino e Formação à Distância
UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA
Exposições
Exposição antológica em honra dos 100 Anos da Sinagoga de Lisboa, das “fases hebraicas” da obra de
Laura Cesana na Biblioteca Nacional dia 7 de Abril, quarta feira, às 18 horas.
Livros
• O Mesmo Mar - de Amos Oz
Traduzido do hebraico por Lúcia Liba Mucznik - edições Asa.
De acordo com as palavras do jornal The Guardian, trata-se de “Um romance poético sobre o amor, a família e a
perda...”.
• Os Porquês da Torá de Alfred J. Kolatch
Seguindo a mesma fórmula bem-sucedida de perguntas e respostas que criou para o Livro Judaico
dos Porquês e sua sequência, o 2º Livro Judaico dos Porquês, ambos publicados no Brasil pela
Editora Sêfer, o rabino Alfred J. Kolatch não apenas dá respostas, mas também explica os
diversos rituais e procedimentos referentes à Torá do modo como são observados hoje em dia.
www.sefer.com.br
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as nossas sugestõesഊ26 TIKVÁ, Março 2004
homenagens
M A R Ç O
Parabéns a...
Aniversariantes
Ester Ruah 01
Zeev Grozovinski 02
Sheley Anne Porton 02
Clara Ruah 02
Isaac Bitton 04
Manuel Joaquim de Jesus 04
Isaac Chazan 04
Sonia Bernfeld 04
Micael Steinhardt 04
Rosy Rosenthal 12
Vivian Bernfeld 13
Elie Alain Hayat 14
Pedro Banon de Jesus 14
Daniela Schliesser 17
Sara Mucznik 18
Lívia Catran 19
Rafael Arié 19
Erich Brodheim 21
Lucia Catran 22
Lici Botbol 23
Daniel Bento Schwartz 25
Miriam Brodheim 31
ADAR
Sábado 20/03
27 Jacob Assor
28 Marcos Levy Ayash
28 Rafael Marques
28 Simy Wartenberg
NISSAN
1 Ursel August
2 Luna Cardona Sta Ana Leite
3 Hannah Sequerra
3 Jaime Issan Bendrao
4 Salomão Benoliel
4 Szayndla Burtin
Sábado 27/03
5 Samuel Liebermann
5 Leonardo Araújo
5 Jacob Wainsteim
6 Jaime Sabat Azancot
6 Isaac Assor
7 Leon Sorin
8 Golda Katzan
8 Haim Levy
8 Pacifico Esaguy
9 Asha Marques
9 Deborah Mª de Lurdes Ayash
9 Mercedes Benodis
10 Isaac Holly
11 Elias Azancot
11 Salomé Blumberg
Sábado 03/04
12 Rev. Abraham Castel
13 David Kolinski
13 Isaac José Benoliel
14 Judah Leão Pimenta
20 Leonor Benoliel
14 Samuel Tiano
14 Esther S.Sequerra
16 Josef Friman
16 Alfred Feist
16 Mazaltob Assor
18 Rebeca Benoliel
Sábado 10/04
18 Henry Karro
19 Ellen Nachmann
20 Fritz Loewenthal
20 Siegfried Weinberg
20 Simy Bensusan Castel
22 Salomão Alves Levy
23 José Bentes Ruah
24 Carlota Arons
24 Simy Cohen Kadosh
24 Rachela Lakeland
24 Ester Droznik Bensimon
25 Liba Goldrajch
Sábado 17/04
27 Mery Azancot
28 Lice Buzaglo Seruya
30 Raquel Ruah
30 Abrahão Sorin
IYAR
1 Max Korn
2 Rosica Davidof
Sábado 24/04
4 Jacob José Levy
4 Joana Edith Singer
4 Maria Matilde Del Negro Feist
5 Moisés Aron Nojmark
5 Louis Aberlé
7 Haim Bendelac
8 Rabi Menahem Diesendruck
Bar Abraham
8 Salvador Sabah Azancot
8 Ruben Esaguy
8 Esther L. Adrahi
8 Dário Azancot
9 Shemtob Ruah
nahalot
Mazal Tov! Os nossos parabéns e
os votos de muitas felicidades a todos!
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2ª a 5ª feira - das 14h00 às 17h00 horas.
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